domingo, 1 de maio de 2022

 a terra sabe e sempre saberá

das memórias morridas 

o DNA, uma estrutura invisível 

a menor parte de todas as coisas sabe


a terra preta, marrom, úmida, 

o solo onde pisam as plantas dos pés,

o chão onde nasce uma árvore...  

sabem


eu ainda me lembro do que aconteceu

só posso lembrar porque aconteceu

poderia pensar que só aconteceu porque posso me lembrar


mas a existência  independe da narrativa muda da minha memória

independe da narrativa vazia das minhas palavras

do vazio das minhas incertezas que afirmo em versos na internet

e das histórias que conto enquanto tento te convencer

do que não posso saber, mas sei. 


domingo, 6 de março de 2022

amar é

 colorir mil flores

florir mil folhas

das coisas que são certas na vida

nascemos
e vivemos

pagamos imposto
temos desgosto

andamos de ônibus
porque somos uns fodidos

e trabalhamos
para sustentar o luxo
que nunca teremos

não temos fome
mas reclamamos

e o que poderíamos fazer
também não fazemos

mal sabemos quem somos
mas sabemos quem não somos
e visceralmente, sofremos

nos expomos
amigas e amigos, nós dividimos

a consciência de refletir a existência
a busca por respostas, a carência

infinda 

porque as respostas não existem
nem nunca existirão 

na solidão
encontramos o sentido

e o vazio
o vazio que nos une e desampara

nascemos
tomaremos vacinas, remédios

encontraremos a felicidade
em prédios

demonstrando toda a flexibilidade da nossa espécie
em seus experimentos antinaturais

transaremos e será bom
algo tem que ser

e obstante aos esforços da medicina moderna
e as crenças terrenas
na vida eterna
 
morreremos certamente
provavelmente morreremos velhos e velhas

porque nem somos tão fodidos assim

brindaremos
mais algumas vezes

cantaremos
dançaremos

e inclusive teremos
momentos felizes
obstante sobriedade (é possível)

e se uma série de eventos convergirem
dividiremos ainda a sensação

de que na natureza tudo parece estar em seu lugar
é lindo

eu conto com vocês


para passar

hora certa não tem

mas é certo que ela chegará

para todos e todas

e ninguém levará

nada



sábado, 26 de fevereiro de 2022

Migração é uma violência contra a personalidade

Migration ist eine Gewalt gegen die Persönlichkeit
Migration is a violence against the personality

É não ser
Nichtsein
Not to be

A falta real e inevitável
E circunstancialmente incompletável

É a ilusão de que a incompletude se dá por razões circunstanciais. 

imersa
sempiterna

Allein sein, anders sein
Não ser de lugar nenhum é ser mais livre 

To be free
Frei zu sein
Free to be

nobody, nowhere, no one, niemand, keiner, nichts
Homeless

Deleitar o inferno de si igualmente bem em qualquer lugar
Ou é a chance de estar bem em qualquer lugar

Contudo, ou se é psicóloga ou poeta
Ou a luva ou o anel 

Migrar foi minha escolha de não querer me encontrar
E aprender que eu sou e estou
Em todos os lugares
Onde vou



domingo, 14 de novembro de 2021

 eu queria nao ser nada

mas sou eu

inferno

sou eu 



terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

O chip de Bill Gates

um pensamento inconveniente

como dor de dente

parasita

estridente

habita

conflita com a razão que resta

que luta e se liberta

e em seguida se afunda

em paranoia

profunda

como o cu que não cai da bunda

persevera 

a fantasia se supera

catastrofiza

a vida

levanta e anda

debanda 

rolo compressor

conspiratório

faz da sala sanatório 

embrolio na barriga de lombriga

dedo na ferida

acorda, minha filha

sai da esteira do abate

queria flores?

só tem tomate

vermelho é  mesmo minha cor favorita

troca a fita

só quer biscoito... 

calma, não se antecipa

se tá viajando

tudo passa

até a chuva

passa

princesa Diana, Barack Obama

nois na lama

na cama o caos

o caos na cama

já é tarde

nem arde

não reclama

leite com pera

novo mertiolate

foi muito sol de peneira

papo sem eira nem beira

ócio no meu hospício

oficina do desgabo

vício vitalício

neurose ambulante

desagradável e petulante

foi vacina contaminada?

ando mal acompanhada

da minha alma perturbada

me introduz na madrugada

mais uma volta 

em estrada troca

a torto de nada


quarta-feira, 15 de julho de 2020

sábado, 9 de maio de 2020

Há vida depois da pandemia


Sim, haverá,

Mas para a criança refugiada que fez figuração no filme do Oscar;
para a mulher queniana desnutrida na foto da evangelista em projeto de neo-colonização;
e para o homem alcoolista que dormiu ontem na escadaria da Consolação,

nada vai mudar em consequência de nenhuma doença.

Falhamos, e se a poesia não nos salvou
se a guerra não conscientizou
ingenuo seria pensar 
que a pandemia vai nos educar.

Pro ser humano virar gente
falta o mundo acabar.

Não tem profecia, não tem energia, 
não tem enigma e nem mensagem.
A imagem na televisão 
confirma uma previsão.

Falhamos, a luta de classes não nos salvou,
nem o chá de cipó, nem o Bhagavad gita.
Falhamos em nossa existência.
Falhamos em sermos humanos.

Depois da Pandemia continua a mesma patifaria.
Cada morto em seu lugar.




quarta-feira, 6 de maio de 2020

À perdedora, as batatas.


“Não devolve no caixa, a gorjeta é pra você, eles* já têm muito dinheiro” Disse o cliente sem saber que eu já sabia que ao final no dia a minha caixa fecharia no negativo. Com exatamente menos seis euros e um centavo. Sem a generosa doação do morador de rua seriam menos seis euros e trinta e seis centavos. Eu peço desculpas, digo que não posso imaginar em que momento isso aconteceu. “No começo é normal se confundir, pode ser que com as luvas você perdeu a sensibilidade e deu para alguém duas notas ao invés de uma“ disse o gerente. Há uma tolerância de cinco euros, depois disso o que falta é descontado na fonte. Assinei dois protocolos de contagem e a dedução de um euro e um centavo do meu salário.

Uma rede de supermercados popular: nem a maior nem a menor no centro de uma cidade nem grande nem pequena. No meu crachá leio o nome do supermercado e meu nome. Antes disso como um título na diagonal e em letra cursiva está escrito “time“. Piada sem graça. Os donos da rede de supermercado são anônimos. Como o vírus: Invisíveis.

Nos fundos entre os vestiários, banheiros e quarto de limpeza tem uma cozinha/sala de convivência. Em função da pandemia só é permitido que duas pessoas por vez ali se encontrem. Na sala de convivência se fuma frente à cartazes de campanhas de prevenção e promoção de saúde.  Como sentar, como carregar peso, como e quando lavar as mãos. É assim que eles* se protegem. Eles, os detentores dos meios de produção, fizeram então sua parte.

Seus cartazes e medidas preventivas são feitos às pressas, frágeis, feios e gritam pelos cantos que descolam: “você não importa”. Eu me sento em frente ao caixa em uma cabine improvisada, de uniforme, com o sentimento de insignificância e com a consciência de que a minha força de trabalho mais valia. Depois do primeiro dia eu disse para mim mesma que não gastaria nada do meu salário naquele mercado.  No plano semanal meu horário acaba quando o mercado fecha, às 22 horas. O caixa fecha quando o último cliente sai. Falta dinheiro no meu caixa, nós contamos duas vezes e eu chego em casa às 23:10.


No segundo dia o gerente me diz às 22:15 que “Se você não quiser levar nada, pode fechar o caixa“. Eu levo sim um saco de batatas. Na saída eu percebo que ele está furado. Assim como o encosto da cadeira do meu caixa está quebrado e o capitalismo e suas instituicoes estão falidas. Eu levo o saco de batatas porque eu moro no terceiro andar, assim eu teria menos peso pra subir na próxima compra e se eu já estou no mercado eu economizo de me expor à uma possível contaminacão junto às batatas do próximo mercado onde eu faria minhas compras.

Carrego o saco com o furo para cima e junto ao meu corpo porque minhas costas doem e porque me sinto sozinha e tenho medo. Eu moro perto, levei para o trabalho somente minhas chaves e uma nota de cinco (na área de funcionários não tem sinal de celular). Espontanemente pensei em comprar um saco de batatas e um de mexerica, mas os dois somariam cinco e trinta e três. O gerente precisou estornar as mexericas.

Volto caminhando com minhas batatas procurando argumentos para contrabalancear minhas dissonâncias cognitivas. Depois eu penso nas pessoas que encontrei, nos pequenos diálogos, nas dores no corpo e penso que eu gosto de trabalhar. Eu gosto de sorrir por trás da minha máscara de pano e desejar para as pessoas um bom final de semana. Eu imagino que amar a vida me protege e que se eu sei que não sou melhor do que qualquer outro trabalhador que precisa sair para trabalhar eu posso também morrer, porque a minha alma está em paz.

Eu amo a vida, mas também gosto de pensar que morrer não é ruim. Assim o meu medo me deixa ir. De luvas e máscaras eu realizo experimentos sociais e contagio pessoas com “bom dia” e induzo medo em cidadãos despreocupados. Como uma agente infiltrada, pedagoga desempregada, um coração revolucionário. Eu fantasio bastante no caminho para casa.

A minha janela dá para um pátio, eu vejo somente a janela dos outros vizinhos. Apesar dos meus argumentos profundos para contrabalancear as dissonâncias cognitivas, eu chego em casa e tiro meu uniforme em frente a máquina de lavar. O uniforme no chão é uma imagem de paz. Tomo banho com nojo como se eu tivesse feito algo errado. Eu deito na cama e penso nas pessoas das fotos dos currículos na mesa do gerente, que queriam estar no meu lugar. Penso na menina de quatro anos que ganhou uma revista de unicórnio enquanto seu pai comprava duas garrafas de vodka quando já era hora dela estar na cama. Penso no morador de rua que me deu gorjeta, penso nos centavos que vão faltar amanhã no meu caixa, nos produtos novos que não estarão cadastrados no sistema e durmo e sonho com a outra moradora de rua que se urinou em frente ao caixa.

Um homem refugiado me perguntou ontem “Até quando? Até quando doença?“. Eu apontei para minha cicatriz de BCG e disse “Não sei... Talvez até nós termos uma va ci na“. Ele abriu os olhos espantado, depois sorriu e me perguntou entusiasmado “Você já tomou?". Eu disse que não e respondi olhando os outros que esperavam na fila que “talvez em outubro, ou no ano que vem…”. O seu otimismo fez o meu coração doer. Depois ele foi embora meio desapontado, mas vai voltar amanhã. Ele gosta de falar comigo. Eu gosto de falar com ele.

Poesia para Aldir Blanc


Simples e absurdo
perder Aldir

Suas palavras eram pontes
para dentro de nós

Um tecido esburacado
pelas fragilidades mais humanas

Narrativas insanas
um recado dobrado em papel amassado

No bolso de um moribundo que não sabe ler
Ele ama, sofre, sente e chora

É brasileiro

Finalmente as palavras diziam
o que palavras não sabem dizer

Palavras com poder de mudar
não só como escrever, como pensar.

Síntese poética antitética
Sinestesia epifania e catarse,

Cores, sons, o céu, o inferno e a Ave Maria.
Nas minhas noites incansáveis de não entender a vida

Palavras urdidas por Aldir

Eu sei o que tem dentro do Catavento:
Poesia em resposta ao tempo.




terça-feira, 21 de abril de 2020

Ato de Resistência.


Deixar o tempo penetrar em nós
E inspirar saudades e paciência,
Mesmo quando nós nos vemos a sós,
Superar nosso medo da existência.

Respirar o ar, ato de resistência,
Viver e morrer são nossos instintos,
Um paradoxo da resiliência,
Não desisto, insisto em minha cadência.

Noite clara, fito o céu em diligência,
Astros multiplicam se em cortesia,
Consonantes com minha teimosia

A ventura é a paz de um poente,
Viver plenamente, árduo dilema,
Que como um bom poema, vale a pena.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Montanha Mágica

Eu preciso de mim
orquestrar meus astros
me tornar mestra 
da arte do meu fim

deixar o tempo penetrar
inspirar saudades
expirar paciência
sem peso nem medo da existência

respirar o ar, resistência
é viver e morrer
paradoxo torpe e sombrio
banal e austero
instinto, insisto, existo
penso, logo espero

a planície é o meu sol
a montanha mágica é a minha lua
não fico, sem nenhuma das duas

noite clara, refratária atenção 
as estrelas se multiplicam 
diante da minha teimosia





quarta-feira, 24 de julho de 2019

Sentimento de perda
Muita imaturidade
Mas no meio disso alguns aprendizados
E uma frase que eu nunca esqueci

Poesia é síntese

Saudades de vocês



Quando nenhum dos seus colegas passaram pelo o que você passou, suas conquistas estão entre uma grande luta e um milagre.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Desordem e progresso

Está no ar, contagia
explosão atômica
multidão atônita
tirem as crianças da sala

todo mundo pra rua
vai passar a ala
da oposição

Numa mistura de bloquinho
com indignação
surge a esperança 
em meio a desgraça

Quem é o outro?
Quem é o inimigo?
Quem é o povo?
Ninguém sabe

Haja álcool gel
Remédio para insônia e azia
Ansiedade e depressão
incluídas no pacote

Temos humor, mas a vida é dura
e a cobrança bate forte

Não é febre nem virose
Um lapso de sanidade
no paraíso tropical

A política é ruim
A mídia não ajuda

Racha pra esquerda e direita
A galera confusa à espreita
E a incompetência não perde
uma chance de errar

Balbúrdia, algazarra melódica
Fogo no galinheiro
Casa da mãe joana
Festa no puteiro

Contra o falso messias
Contra misogenia e homofobia
Militares e suas hierarquias 

Se falta a empatia
Vai no mínimo contra a farsa, 
Displicência e ignorância
Falta de competência e confiança
Te enganaram, desculpa falar.

Simbora cambada de despatriado
a liberdade há de cantar

Não queremos armas de fogo
Vidas negras estão em jogo
50 mil homicídios por ano
a conta quem vai pagar?

É só a fé na desordem 
que me faz acreditar
que dias melhores virão

Boca na trombeta
Vaca de divinas tetas

Bozo sem graça
piada de mal gosto

Bolsolixo, boca de esgoto
filho do capiroto

volta pro seu lugar

Vai passar pela avenida
a balbúrdia unida

O sol há de brilhar

sábado, 11 de maio de 2019

Abacate salgado

dormir em cima da capa do violão
cantar a música do Sabiá
ouro Preto, morro da forca
saudades de quando estivemos lá

velho barreiro com limão
frio de noite, lua nova
contar dez vezes a mesma história

ainda hoje eu tenho
aquela blusa listrada e xadrez
saudades de vocês
dividir um colchão de casal para três
dormir as seis e acordar

ao meio dia com embriaguez
feijoada no café da manhã
cantar uma tarde em Itapuã
mas a versão do Catra, de Amsterdã

ali comi pela primeira vez guacamole
em uma festinha de republica
que viagem, abacate salgado




O que eu queria ser e não sou

O que gostaria de saber e não sei

Paixões confusas

O que queria ter e não tenho

O que eu queria saber dizer e não sei, falta

faltam me as palavras, as cores, o som e tudo nasce e morre dentro de mim 

Eu não sei mais falar língua nem uma

Escrevo cartas, tenho medo de esquecer, me pergunto onde estão as pessoas que estavam ali comigo

Nada será como antes 

Tudo bem

Eu gosto de ler um poema antigo

Ponho a culpa nos outros

Me comparo, ouço musica emo

sinto inveja, remorso...

A pia cheia de louça, a roupa na maquina pra estender

Eu sonhei que estava no Brasil, com os meus primos, meus tios

Acordei de mal humor, fui grossa e ninguém o merecia

Agora estou sozinha, contagiada com o meu existencialismo

O poema acaba

Eu quero que acabe, eu quero dizer, o que não sei dizer e fazer algo que faça sentido




quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Muitas pessoas tem em si um interior
Eu tenho Sao Paulo.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Pátria armada

Pátria armada
desalmada
salve salve
se quem puder

mudar de sonho intenso
sonhar em silêncio
um sonho tímido

amor esperança
violência agressão
arroz feijão
banalidade inverdade
tem marmelada
tem sim senhor

formoso é o céu
mas não tem poesia que dê jeito
não tem papo
o sangue vai rolar
e não vai ser o deles

O seu futuro espelha avareza

Como sempre foi e ainda mais

Nunca foi bom
É perverso dizer que foi

E muito mais perverso não dizer
que o está por vir é pior

e pagar pra ver vai doer
No preto, na mulher, no indigena e no menor

Eu não tenho inimigo
tenho pena de quem está iludido
todo mundo quer tomar partido
E eu só querendo viver

O povo é pobre
a alma tem fome 
e não sabe de que

Pátria armada
desalmada
Pare o trem que eu quero descer
salve salve 
se quem puder

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Sao paulo

É uma tentativa de amar e ser amado
Uma prova de incompetência

Camuflagem de erros
Dissipador de sonhos

Sao paulo se alimenta da percistencia
Do resto do extinto mais humano

Que restou nos seres
Que fazem a máquina girar

Sao paulo é uma soma única
Um filho de todo mundo e de ninguém

Crise, assalto, morte e doenca
Aquela plantinha que nasce no vao do asfalto

É saber que você está vivo
Mesmo quando tudo ao redor
se esforca para demonstrar sua insignificancia

E eu tenho saudade
Dos lugares favoritos
Das esquinas e becos secretos

Acho que porque aprendi em Sao Paulo
a ser auto destrutiva, agora tenho saudade
De instalar ordem no caos da minha cidade






domingo, 6 de maio de 2018

no encontro com o novo
se manifesta a minha falta de inteligência
terror
desespero
e solidão

a memória recorta os fatos
eu jogo contra mim

sadismo tímido
bipolar

começo a contar e não termino
estatística
faço afirmações positivas
auto hipnose

depois me distraio
viro existencialista e sofro até dormir sem lembrar com o que me preocupava

 e sonhar com algo ruim

no encontro com o novo se manifesta meu despreparo
instabilidade
fraqueza

incapacidade
crise

e vou procurando em todos os outros um pouco dos meus medos
pra me desculpar

sensatez tem me ofendido
tenho inveja de quem tem menos problemas

meu coração ė revolucionario
ou foi

pavor
o céu tem uma cor bonita
e a estação deveria ser favorável à uma melhora de humor

mas tenho ainda muito medo





terça-feira, 1 de maio de 2018

Existencial


Um ser essencialmente existencial

chato

Na complexidade dos seus sentimentos
e espaços vazios

Dos significados sem palavras
das incapacidades

que preenchem o tudo e o nada

e não servem para nada

Um ser sentimental

banal

crítico demais e sozinho

Um ser como todos os outros em um dia ruim

Que um dia leu Bukowski e se encontrou

Um ser  não adaptado

da era do computador

1994

Me motiva muito pouco um papel e uma caneta

Mas as palavras ainda são

a menina dos olhos

A internet é minha terapeuta

Tento reter minhas capacidades

sobreviver

e não emburrecer

melhorar

ser amável

e existir

me fazendo perguntas










sábado, 31 de março de 2018

A morte é uma visita
que deixou suas coisas na sala

A falta se desdobra
eu vou mudando de lugar as malas

Tentando fazer caber

A visita nao foi nenhuma surpresa
mas demanda como sempre

Movimento
sentimento, necessidade de ocupar e desocupar

De ajustar
Respiro o ar com estranheza

O que mudou
com os olhos nao se pode ver

Tristeza

Saudades, nostalgia
contagiam os cantos, se instalam

Minha boca escolhe as palavras
com sensatez

Eu sinto muito
pelo dito e pelo nao dito

Pelo feito e pelo esquecido
pelas promessas que nao se cumpriram.

Vivemos
dividimos

A matéria nao é eterna
mas memória é terna





Se sombras em silêncio rezam em vão
Se eu ainda penso em encontrar suas mãos

Eu não estive e você não estará para outro verão

Nem pros olhos tristes
Estão os dedos em riste
No violão

Nem para outra lição, outra canção

Um prato a menos na mesa
Uma vela acesa

Se sonhos em silêncio despertam ou não
se ainda penso em encontrar suas mãos

Eu não estive e você não estará
para o outro verão
encarar a morte com sensatez 
o último desejo nao foi dito,
nao foi escrito
mudez

ética surda
papo de louco

pendura, lava, poem, tenta, destenta, tira, liga, desliga.

o ar é frio e condicionado
as complicacoes se somam até o sono sem volta

o último desejo da minha avó
ninguém nunca vai poder adivinhar

olhos de mar
pensamentos desconexos

as últimas palavras emergiam embargadas
os enredos complexos
das histórias que nao vamos saber

a foto da minha avó quando jovem
sempre foi e sempre será só estranheza

todas as pedras viraram pó
em nossa memória, um castelo
suas fortalezas e buracos

quem foi Maria José?

ela foi a nossa maior parte
nao a mais presente, nem a mais afetuosa.

mas essencialmente a nossa parte
que entoo orgulhosa.

talvez seu último desejo, nem ela mesma sabia
mas se eu tivesse de dizer, diria

que ela tinha desejo de casa, de pedra
de tronco e de terra.

e como qualquer outro em cima da terra
por mais estranho que possa parecer

Maria José queria ser amada. 



quinta-feira, 22 de março de 2018

Tem um buraco

E sempre há de ter

o que é do bicho

o homem come, e o que de outro homem ele come também.
Desta vez não tenho a sensação de estar longe de casa,  vou esburacando os meus medos e entochando sonhos por todos os lados.

Eu não estou mal, eu não estou com saudades, eu não estou com paciência.

Eu gosto de estar de baixo do céu azul, do céu imenso e de ser um ser humano vivo e que pensa, que sente e sonha por todos os poros.




Pesadelo sem acordar

O peixe no cozido
está vivo
nó no ouvido
zumbido na garganta
de nada adiante
pare o avião
eu quero comer

quinta-feira, 11 de maio de 2017

No final, você sabe
Somos sempre nós dois
E problemas que não existem...

Se você também se pergunta, eu não sei
Engraçado é que nunca foi
Não é
E eu acho mesmo que nunca vai ser

sobreviventes

Somos mulheres
Nos encontros e nos desencontros somos
Mais do que cromossomos somos...
Sonhos
Sonhamos sonhos de mulheres
E algo é sim muito igual e muito diferente
Dentro da gente
Nos encontramos nos sofrimentos
Nas confusões que reverberam por dentro
Somos irmãs
Na boca há sempre um pouco
desse gosto de desprezo
Não passa
Só de existirmos já lutamos
Somos um fenômeno
Somos mulheres feitas de sonhos

a experiência de família

Minha mãe não senta
A avó reclama, preciso dizer
Meu pai respira muito sério e controverso antes de aceitar uma brincadeira...
Rezar na cama dos meus pais antes de dormir

Praia, terra, museu, bicicleta
Cinema, teatro
Impaciência
Surra de cinta, também é cultura
Um quarto só de livros
A gente dormindo meio amontoado
Um bloquinho de poemas
Poesia concreta
As obras que nunca terminam
Sol na lage
Viagem de carro para Bahia
Cantina italiana
E desde sempre ser parte da ordem e do caos
Da poesia, do trabalho, do cuidado e da ideia muito sensível e muito tímida
De que vivemos um pelos outros
Palavras sempre bem escolhidas
Demonstrações de afeto proibidas
E tudo muito claro
Tudo e nada
Família dói
Se desentende
Falta
E constitui da carne a alma
Todos os gestos estão aqui
Desaprendíveis
A voz do meu pai
O olhar dá minha mãe
Minha avó e minhas irmãs
A falta
Há falta de palavras e todo movimento revira por dentro
As vezes precisamos lutar
As vezes é só colo de mãe

sobre a luz

sobre a transcendência, as energias, a terra mae, a yoga, a macrobiótica, as aureas, a luz e as constelacoes... nao tenho muito o que dizer.
tenho saudade de alguns amigos que deram um mergulho muito profundo em si mesmos.
...
saudades da Mariana que tomou chá e pulou no rio.
estudo, leio, escrevo, quase que me obrigando a gostar de estudar, ler e escrever.
trabalho, trabalho e trabalho feito um jégue e me obrigo a pensar que o meu trabalho me faz uma pessoa melhor.
que eu estou contribuindo.
eu faco sexo.
tenho orgasmo em 98% das vezes. estou orgulhosa.
tenho relacoes saudáveis e amistosas com pessoas.
estou considerando seriamente dar uma segunda chance para Deus.
um pouco sem paciência para os psicotrópicos...
também sem paciência para me engajar nos esportes.
tenho prazer limpando a casa onde eu moro
prazer em ver a pia limpa, o guarda roupa cheio de roupa dobrada
sobre a antroposofia, a mediunidade, a meditacao, o caminho do divino sagrado da luz do tântra da mae terra...
talvez por extrema insensibilidade, medíocridade ou ignorância eu nao tenho nada o que dizer...
as energias místicas que eu senti foram só balinha mesmo, tablete, fome e pressao baixa...

O pai está fora

O pai está fora
A mãe está dentro...
O pai é a maldade
E a mãe a bondade
Nossa sede é de mundo
E de carinho
O mundo nos alicia
O carinho nos prende
E na confusão das vontades
Se constitui um campo minado
Deixamos-nos esfolar por todos os lados.
E de vez em quando temos a sorte
De conseguir sentir que um dia fomos animais.
O pai é o infinito de fora
A mãe o infinito de dentro
O pai é brutal
E a mãe é o intenso
Negamos tudo para tentar crescer
E depois de procurar por eles toda a vida
As vezes aprendemos o caminho da casa dos nossos pais

poesia

Me escolhe
Me cria
Me molha e me dissolve...
Na pia

Eu quero você
E não sei como
Eu quero o que você é e eu não
Me dobra
Me amplia
Me afasta
Me esfria
Me assopra
Desenha em mim
Cartografia
Me olha
Me ensina
Me diz uma só palavra

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Elfchen

Enttäuscht
Bin ich
Wenn du nicht
Meine bedürftigen Augen siehst
Aufdringlich

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Die Farbe von Weihnachten ist rot

Weniger Geschenk und mehr Präsenz
Mehr Vertrauen und weniger  Konkurrenz 
Wo der Krieg ist, wünsche ich Ihnen den Frieden
und einem desolaten Herz (wünsche ich), dass neue Hoffnungen erschienen
Ich wünsche dass, die Liebe uns bewegt
und das Geld nicht im Mittelpunkt steht

Wenn ich noch träumen kann,
träume von der Revolution 
mit Büchern statt Waffen
Ohne Lösungen, aber mit Fragen 

In der Krise muss man sich aufstellen
Heute hat Jesus Geburtstag
Und mein Herz sagt:.

,,Gegen das Kapital wünsche ich die Ungleichheit tot''

Die Farbe von Weihnachten ist rot

caso seja um dia do interesse de alguém quem sao os meus ídolos.

Gostaria apenas de declarar que tenho mais admiracao pelos homens (e pelas mulheres) que escreveram livros, do que por aqueles que mataram pessoas.

vermelha é a cor do natal

Menos presente e mais presença
menos competiçao e mais confiança
onde há guerra, que haja paz
e nos corações desolados, esperança
que o que nos mova seja a paixão
e não o dinheiro e a ganância

Se ainda é meu direito sonhar
sonho que a revolução esteja próxima
com livros ao invés de armas
e perguntas no lugar de respostas

Se nesses tempos de crise
é preciso se posicionar
no natalício de Jesus
meu coração quer gritar
pelo fim do capital
vermelha é a cor do natal

sábado, 10 de dezembro de 2016

Häufig will ich mit deinem Herzen sprechen.
Die Wörter finde ich aber nicht

Vielleicht ist das nicht schlimm
Wenn unsere Augen sich treffen, bin ich mir immer sicher:

Ich liebe ihn

 Alle Wörter, die ich sagen wollte,
tanzen im tiefen Schatz meiner Erinnerungen

Ich suche nach Alternativen....
Aber oft muss man im Leben einfach halten. Atmen.

Selbst Wörter können nicht immer sagen, was sie meinen wollen

Die Liebe ist groß
Das Leben ist lange

Vielleicht nicht lang genug um zwei Sprachen mit dem Herzen zu sprechen.

Zum Glück kannst du Portugiesisch

Außerdem haben wir in unseren Augen
die Unendlichkeit gefunden  


minha avó jogou a boneca no lixo.

Em decorrência da repetitividade com que esse tema me ocorre, vou partir do pressuposto de que não preciso mais apresentar minha avó.

Foi perto do último natal, eu queria liquidar toda minha ausência presenteando minha avó com uma boneca. A boneca era verdadeiramente bonita, mas não sei porque eu na minha inocência pensei que minha avó adoraria o presente e se alegraria ao olhar para boneca todos os dias. Todos os dias em que eu não estou.

Um pouco depois de comprar a boneca, eu voltei para uma visita e a boneca não estava mais lá. Perguntei por ela. Minha avó disse que a empregada quebrou. Falei com a minha mãe. Depois de uma breve investigaçao, ela disse que o porteiro viu pelas câmeras do condomínio que minha avó colocou a boneca no lixo.

Eu sei que o coracão da minha avó doeu.

Vai fazer um ano que tudo isso aconteceu e eu não fiz mais nada.

Eu não quero pensar na minha avó, na dificuldade dos seus 93, descendo oito andares para jogar a boneca que eu dei no lixo.

Eu sei que eu estou errada e ela está muito lúcida. Talvez não sejamos muito boas em resolver nossos problemas conversando... Já na arte de machucar uma a outra, parece que há um dom na família.

Saudades de dar carinho na minha avó, mas as pequenas mágoas enrigeceram tudo, e a gente se permitiu ficar longe sem nada dizer.

E como ao redor de toda pessoa velha, paira sobre nós todas da nossa família, a sensação de que logo ela vai morrer.

Criamos mecanismos de autodefesa, e o sol nasce e se poem todos os dias.

Mais uma vez presente não é presença.

Saudades de receber carinho da minha avó.

De todas as pequenas coisas que ela tinha e que eu quando criança achava muito bonitas.

Dos antigos livros de receita , toalhas bordadas, das revistas....

Tudo ficou velho

E quando eu paro para pensar, vejo

que todos os dias eu vou deixando meu coração virar pedra




terça-feira, 11 de outubro de 2016

O que aconteceu com os girassóis?

O que aconteceu com os girassóis?
Carolina e Guilherme não são mais um casal
Nós
Se lembra? Era uma noite como qualquer outra...

Depois de tantos anos, nos detalhes de uma conversa
lembrar de Ouro Preto é como um balde de água fria
Faz frio.

Carolina, que saudade de tudo!

O caminho não era obvio, mas nos encontramos

E nos separamos

E agora o campo de girassóis me faz lembrar de você...
Das coisas que você teve coragem de fazer e eu não tive

Saudade de quando a gente era amigas
E eu não pensava tanto sobre o que eu queria
Da vida.

Tudo mudou muito.

Mas contrariando as expectativas,
Quando penso na sua força percebo que continuo mais errando do que acertando

Na falta de certeza, talvez melhor não dizer mais nada

Saudades, saudades, saudades

Em todos os dias que estivemos distantes,


terça-feira, 26 de julho de 2016

Você acredita em Deus

Você acredita em Deus

Eu tô aceitando começar de novo
Eu quero que seja simples assim

Deus.

O mundo é bom porque eu te conheci
ou porque eu quero te conhecer

Não sei.

Se deus existe, eu não sei.

Sei que te beijar é bom

Se esse for só o caminho mais fácil
Está bom assim.

Ninguém quer se ferir

Toda essa inocência soa um pouco patética
Toda essa carência soa como oportunismo

Mas de dentro do coração:

Quero te ver

de dentro do coração:

Eu estou pronta.

de dentro do coração:

É isso o que eu preciso.

E se só essa vontade não bastar, que criemos sonhos,

Esperança

E saibamos aproveitar os momentos em que tudo é expectativa

Eu acredito em você



sexta-feira, 17 de junho de 2016

nós não vamos esquecer. Carta aos meus fantasminhas Pt 4

O que fez a gente tão jovem

ficar com o coração 

tão cheio de ódio

O que fez a gente ficar

com medo de amar

Eu sei muito bem como se chama

Se chama injustiça

Amar todos os seres do mundo é mais bonito

Se for melhor saber dizer eu te amo

Não me importa

Eu vou saber para sempre

qual é o meu lado

E nem que seja para morrer jovem e com o coração cheio de ódio

Eu não vou aceitar

Nem que seja para conviver com este mal humor

Com indisposição à tudo que se diz na televisão

Eu vou viver

E que minha cara indignada e todas as minhas palavras sem açúcar

sirvam ao menos para deixar bem claro:

nós vão vamos esquecer.

Carta aos meus fantasminhas Pt 2

Aquela moça cheia de sonhos  e emoção

era só eu

sozinha e cheia das coisas que eu inventei

Para o bem ou para o mal

Eu não saio daqui sem tudo que é meu

sem tudo o que eu fantasiei

dentro de mim

da profundidade do meu intestino

das minhas conexões nervosas

revoltadas

da minha cabeça

do meu umbigo

se resta à vós a dúvida

se não sabeis se um dia me fizerdes mal

sabei vós que me fizerdes muito mal sim

E que eu não vou me matar

de resto a vida continua

vou entender o vosso silêncio como pedido de desculpas

E o meu entendam da maneira que se sentirem melhor respectivamente




quinta-feira, 16 de junho de 2016

Carta aos meus fantasminhas

Não morro
Não morro sem saber o que me move


Aos urubus

Eu ainda estou viva,

Att,

Luciana.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Poema de 4/5/16 - Sem título II

é falta
é ferro

é um prego no peito

é uma lixa de pedra
rasgando por dentro

a fita
é foda

é tudo desespero

é ausência
é memória

tudo ao mesmo tempo

é esquisito
demora
dá ruim na barriga

é saudade 
covarde

maltrata e castiga

Poema de 4/5/16 - Sem título I

eu estou
aprendendo a amar
quando te deixo viver
isto

sem precisar lembrar
que eu
existo

eu estou
confabulando
procurando as palavras
no ar

sem precisar perguntar
muito

me respondo a cada instante
que sim
que pode ser

pode ser que amor seja muito maior
muito mais
muito melhor

generoso
paciente

superlativamente redundantemente e hiperbólicamente
capaz

de nos unir na disparidade das escolhas
e também na disparidade de tudo aquilo na vida que não escolhemos
mas aconteceu

quanto mais se aproxima a partida
mais eu sinto que não há nenhum motivo para se despedir





Poema de 4/5/16 Sem Título


Eu vi sua foto e meu coração acelerou
Respiro o ar frio de hoje a noite e me sinto cheia de tristeza
Tá faltando você
Fizemos dois anos
Nós dois
Escolhemos nos separar
Escuta,  se eu ainda escrevesse a caneta , escreveria forte até rasgar o papel:
Nunca vai ser igual
Não vai ser igual
O que você quer quando me diz que vou encontrar outra pessoa?
Me desafiar?
Te peço: me espera
Mas eu sei que não precisa
Quando penso que há dois anos eu te encontrei por acaso no trem
 Sinto que nada pode te tirar da minha vida
Eu não vou desistir
Eu vou embora
Fique a vontade para se incomodar, duvidar ou achar que não sei o que digo
Afirmo  com muita tranquilidade: meu coração fica onde você estiver