quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Hoje vai chover

-Tem horas?
-5mim pras 2.30
Ficou claro que começaria a aula as duas e meia, isso tornava a resposta dele menos errada. Seria mais funcional, se eu estivesse esperando a aula, mas não estava, ele estava, eu só estava passando, e de verdade, não tinha hora certa pra chegar em lugar errado, nem hora errada pra chegar em lugar certo, nem vice-versa intermitente.
Não era tão atoa, eu queria saber as horas porque disseram que choveria atarde, o ceu estava claro ainda... e não era tão cedo da tarde.
Não importa porque no final choveu mesmo.
Eu não sabia onde comprar pilhas, nunca compro, parei numa tenda. camelô já quase todo desmontado, o dono da tenda colocava as mercadorias numa Combi
-Tem pilha?
Ele parou, olhou pra mim e eu tive certeza que ele não pensava em absolutamente nada, nada mesmo
-AA? - eu insisti
Ele tornou a guardar as coisas e disse:
-Já guardei, não dá pra pegar...
-Em outro lugar vai ser caro... - eu insisti
-Vê na quitanda
Agora ele ja dobrava a lona, quando eu estava já partindo, dois passos, quase no terceiro ele fala meio alto, como que me chamando e ao mesmo tempo fingindo que não ligava pra mim:
-Sabe... - Continuou menos exaltado quando viu que me aproximei e que olhava para ele - hoje vai chover, chover muito.
Olhei pro alto e achei bonito, vi um ceu muito azul, perfeitamente azul, folhas de uma arvore mijada um fio com um passaro e a aba do guarda sol da barraca do homem da cocada
'O azul mais azul que existe, mais belo e mais triste'
-Parece que o céu esta limpo menina, mas hoje vai chover muito mesmo.
Não respondi, sorri automaticamente embora estivesse com raiva, por ele não pegar a pilha e por estar certo afinal, logo choveria.
Andei até a quitanda, um puta ceu azul, sem uma nuvem, sem sol, eu andando embaixo de um azul homogenio, passou um passaro, mentira, não passo nada. não vi passaro nenhum nesse dia, tudo mentira.
Entrei na quitanda
-Tem pilha?
-Tem
-Quanto tá?
-AA?
-Aham
-Aham?
Aham, AA
- Três Reais o Pacote.
-Eu quero Quatro
-Vem quatro
Pilha de marca boa, imaginei que seriam bem mais caras, depois das pilhas recarregaveis...
A menina da loja era parecida comigo, porem mais gorda e nariguda, usava roupas parecidas com as minhas... Devia ter a minha idade.
Ela usava sutiã branco, eu nunca uso branco..
Paguei andei pela loja procurando nada especial, esperando o troco.
Não gostei que ela separava o troco certinho, eu ainda estava vendo se queria algo, ela fez isso porque sabia que naquela loja, só tinha lixo. e ninguem nunca queria mais nada, nada que ficasse para traz do balcão, no balcão, pilhas superbonder, cigarros, guloseimas, o de sempre...
Saiu do fundo da loja uma senhora, mussulmana que colocava os produtos que ficavam na calsada da loja para dentro, uma caixa de ferro grando com vassouras e afins
-Vai chover muito, muito mesmo
Eu ja sabia, e ela estava certa, eu poderia concordar e estar certa também, dispensei, não queria chuva, nem anunciar a mesma... E nem estar certa.
Voltando pra casa vi a Combi estacionada e o dono da tenda dentro do bar, falando sobre a chuva com outros.
Todos querendo se mostrar impotentes aos estragos comuns da chuva, porém adorando portar uma verdade. Tomara que moram todos alagados com até o miolo do rabo de água
E de inutil verdade.
Nossa que patifaria, apesar de que foi um desejo real, momentaneo e mal fundamentado, mas real.
No Posto de gasolina, uma loira amarrava um saco de bolas para criança que ficava pendurado.
Atravessei a avenida, subi a rua de casa entrei e subi, no elevador ouvia o barulho dos primeiros pingos, da varanda da minha casa sentia o cheiro, eu ia colocar as pilhas, porém decidi antes me render, fui a varanda verificar a gravidade da chuva, poderia ser balela do sistema, não estava crente do diluvio, não queria montar a arca de noé.
Olhei para baixo primeiro, estava chovendo muito, e olhei para frente, reparei que nunca reparei como seria o crepusculo em dia de chuva, o ceu esta sempre preto... Porém hoje não, olhei para cima, não consegui olhar muito, via pontos brilhantes continuos caindo do quadrado azul, reparei que nunca reparei que o enquadramento da minha visão não era quadrado e sim era quadrado o buraco da janela varanda, a chuva parecia uma chuva de estrelas cadentes cor de prata durante o dia em um ceu azul assim, achei que não precisava de tanto cuidado, era uma chuva, normal, não tanto como dias de sol, porém as chuvas serão cada vez mais anormais... Se a agua estiver mesmo acabando.

No meu quarto colocava as pilhas no gravador quando voltei, puxada como imã à varanda, que coisa estranha
a tampa do bueiro voava em cima de um jato forte de agua que não parava de cuspir, impulsionado como um chafariz agua subterrânea a tampa para o ar.
Mas para mim não era o diluvio, não foi o diluvio e não seria. Mesmo porque eu moro no decimo primeiro andar...
Minha empregada foi até a porta do quarto e disse:
NÃÃÃO
Não merece nem um paragrafo com travessão, ela disse algo do tipo que as pessoas ficariam sem casa por conta das enchentes
"Se tem a verdade guarde-a, fora isso sou doido, com todo direito a se-lo"
Eles acham que eu não sei? Ou esperam algum tipo de solidariedade da minha alma? Ou é automático?
Olhei para ela e limitei-me a balançar a cabeça e encolher o beiço em uma expressão falsa de impotência e desaprovação, como se a culpa da chuva fosse o mensalão e de quem votou no Gilberto Kassab
ou de qualquer outra coisa que não seja eu ou ela.
Voltei ao gravador e comecei a gravar:
-Tem horas?
-5mim pras 2.30

E acabou, e esta chovendo bem que a Ana Paula Padrão avisou, tiremos as roupas do varal,
Eu vou, são quase cinco horas e eu quero ver, como é o por do sol, em dia de chuva

depois eu escrevo um poema

sábado, 3 de outubro de 2009

Cansada

meu seio é grande
tão quanto pesado

meu choro fraco
é transparente e salgado

meu seio esta cheio
preciso esvazia-lo
foi assim que
meu amor por você foi
como água pelo ralo