Algumas experiências na vida são assim, avassaladoras,
perversas, deliciosas, transformadoras, intensas e maravilhosas. “Por que ela
veio tão bonita?”, “Porque estava de batom vermelho?”. Inexplicável, está além
dos seus próprios poderes.
Quando a experiência tem nome de mulher.
Tem nome, sobrenome, RG e CPF, ela é única, é cretina,
faz você pensar que só ela te deixa assim,
e que não saberia jamais o que fazer com as mãos caso ela dissesse sim.
De fato, quando ela me beijou (até eu entender o que
estava acontecendo) minhas mãos se conservaram gélidas ao longo do meu corpo
com um soldadinho de brinquedo feito de plástico.
Eu sou seu
brinquedinho.
Eu sou seu cachorrinho e ela percebe que enquanto se
aproxima meu rabo começa a abanar. Disfarço, desconverso, faço de tudo pra não
ficarmos sozinhas
Se ela chegar mais perto, eu desvio os olhos, se me
procura os olhos, viro religiosa, peço ajuda pra Jesus, para santo Antônio e para
os bombeiros. O que ela tem que as outras não tem?
Ciúme.
É o único jeito que ela sabe mostrar que gosta de mim. E
não importa o quanto falamos de homens, sempre que na conversa tem outra menina
“E você beijou ela?”. Respondo que sim, ela respira longamente, aparece um
letreiro luminoso Brechtiano no meio
da nossa linda noite de luar de lua cheia: CIUMES.
Jogo.
Eu não poderia deixa-la jogando sozinha, na
oportunidade certa eu digo que a viagem pra Ouro Preto com ela não foi a mais
importante do ano passado, nem nenhuma que ela foi junto... Foi outra.
Ela respira longamente novamente. No letreiro luminoso:
VINGANÇA. Ela diz então que tentou ser lésbica e não conseguiu.
É um desafio? Quer que eu prove alguma coisa?
Não tive coragem, disse apenas que ela ainda iria
conhecer muitas mulheres maravilhosas. “Como você?” Ela perguntou rindo. “Sim,
como eu” Respondi rindo também. Não pulei em cima dela e não agarrei seus
cabelos. (Embora não tenha pensado outra coisa por sequer um segundo daquela
noite, de antes e de depois).
Enquanto
isso.
Eu não toco em nenhuma das minhas outras amigas, e
nunca dividi cama com nenhuma delas, e tirando algumas exceções não beijei-as
também. Não desejo minhas amiguinhas, não olho tanto pra elas de longe na
calçada fumando cigarro. E Carolina vai ser pra sempre minha namorada.
E nos nossos encontros tem mais jogos do que nas
olimpíadas mundiais, as conversas mais duplo sentido que piada do Joãozinho. E todas as vezes que ela e
seu frisson se aproximam é como se toda
metafísica do mundo se explicasse na existência de um ser humano tão capaz de
acelerar meu coração.
E de pisar nele, e de rir das milhares de pessoas que a
escrevem poemas, e me colocar em uma compota de admiradores que conserva.
Os canalhas ficam na melhor prateleira, são os que babam, mas também gostam de a maltratar.
Maltratando.
Vou te maltratando, e você segue fazendo o mesmo, e vou
te admirando, e você me admirando, e a gente vai enchendo a cara pra dar
coragem, e se tocando de leve pra dar vontade. E de repente entre a gente tem tanta coisa, tanta gente.
Placar Final.
Ir embora sem vontade de se despedir.
E eu termino a noite do dia
seguinte perdendo a hora do cinema porque essas palavras sobre essa gatinha não saem da minha cabeça.