segunda-feira, 23 de junho de 2014

Limerick IV

gostosa,
a carne branca, redonda e vistosa
entre o pano cor de rosa
ela olha de lado na fotografia
porfia: descolar as páginas estraga um pouco a fantasia.

Limerick III


uma moça um pouco pedante
parada em frente a estante
devorou 12 autores para abrir o apetite.
depois Bach, da Vinci, Stravinsky e Magritte
era mesmo uma antropófaga, a mocinha pedante.

Limerick II

os ossos da costela
dançavam com ela
um por um podia-se ver
gemendo ao se contorcer
a bailarina magricela

Limerick I

peixes acinzentados
na bacia do mercado
com olhar um tanto gélido
cativavam a clientela
mas de nada adiantou: todos foram para panela.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

O céu se abriu inteiro

Mas no coração dos homens: nem entrega, nem receio.
tudo é tempo, tudo é dinheiro.

Em um dia que o sol rasgou as nuvens
os vidros, as cortinas e se impôs ao meio.

As plantas fizeram fotosíntese como há muito não faziam
e os raios UVA incidiram sobre os cânceres de pele que doíam

Nesse dia, tudo continuou muito caro e o tempo passando muito rápido.
Tudo continuou parecendo ter surgido  de um processo instantâneo.

Muitos pontos refletiram no asfalto que racha
e brilharam entre as listras brancas e pretas da faixa.



Não me l e v a assim
Dá sua  mão
M e d a a s u a m ã o
Me ensina a estar sem
C
A
I
R
No seu olhar
Va                          zio
Quando pensa em algo
Que eu não sei o que é
Mas apostaria (25) centavos
Para saber, no que pensa você
...Se você quer me l  e  v  a  r
onde está seu olhar
Se pensa em me buscar
Para tomar
Sorvete.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Menina,



as coisas que eu queria dizer e não disse,
estão na minha cabeça dançando ao som do meu relógio analógico.
no silêncio mais vazio possível entre um e outro tic tac.

te olhar de longe na calçada, assim de noite
faz a vida parecer um filme

são tantas luzes, e tantas desideias
em casa eu contínuo pensando e desistindo muito.

eu moro em um primeiro andar,
e tem um poste na minha janela.

aqui sempre fica tudo muito claro.

eu escudo perfeitamente cada palavra das mulheres e das crianças que passam na rua, entre seus caminhos de volta, o silêncio, meus pensamentos e o relógio

envolta nessa névoa branca, pura, sólida e refinada sob cada um dos postes da rua tem pequenas casas e construções sobrevivendo num grande centro.

existe no mundo um poeta que diz que não se deve escrever poemas para sua cidade, que se deve deixa-la em paz.

mas ela acorda de noite, nos últimos dias principalmente, tão alva e tão quente, que me obriga a olhar, e então já está tudo perdido.

porque é uma sensação tão avassaladora ver da janela milhares de janelas, acesas, apagadas, metálicas, reluzentes, ver pequenas estrelas na noite tão clara, e tantas outras pessoas na janela, e fora dela, fumando cigarros, esperando.

As businas e as rodas dos carros, de longe passando na avenida, as palavras censuradas, e o meu relógio metronomeando minha existência solitária estão cantando, dançando, um filme que por fim decido chamar de me-nina.

e todas as coisas que não disse vão dormir comigo
e muitas outras casas dormem, 
outras acordam,
outras dizem, 
outras não dizem, 
as mesmas coisas e coisas diferentes.

e por mais que isso possa deixar Carlos Drummond um pouco frustrado: A menina nunca descansa.



Intensa e maravilhosa.


Algumas experiências na vida são assim, avassaladoras, perversas, deliciosas, transformadoras, intensas e maravilhosas. “Por que ela veio tão bonita?”, “Porque estava de batom vermelho?”. Inexplicável, está além dos seus próprios poderes.

Quando a  experiência tem nome de mulher.

Tem nome, sobrenome, RG e CPF, ela é única, é cretina, faz você pensar que só ela te deixa assim,  e que não saberia jamais o que fazer com as mãos caso ela dissesse sim.

De fato, quando ela me beijou (até eu entender o que estava acontecendo) minhas mãos se conservaram gélidas ao longo do meu corpo com um soldadinho de brinquedo feito de plástico.

Eu sou seu brinquedinho.

Eu sou seu cachorrinho e ela percebe que enquanto se aproxima meu rabo começa a abanar. Disfarço, desconverso, faço de tudo pra não ficarmos sozinhas

Se ela chegar mais perto, eu desvio os olhos, se me procura os olhos, viro religiosa, peço ajuda pra Jesus, para santo Antônio e para os bombeiros. O que ela tem que as outras não tem?

Ciúme.

É o único jeito que ela sabe mostrar que gosta de mim. E não importa o quanto falamos de homens, sempre que na conversa tem outra menina “E você beijou ela?”. Respondo que sim, ela respira longamente, aparece um letreiro luminoso Brechtiano no meio da nossa linda noite de luar de lua cheia: CIUMES.

Jogo.

Eu não poderia deixa-la jogando sozinha, na oportunidade certa eu digo que a viagem pra Ouro Preto com ela não foi a mais importante do ano passado, nem nenhuma que ela foi junto...  Foi outra.

Ela respira longamente novamente. No letreiro luminoso: VINGANÇA. Ela  diz então que tentou ser lésbica e não conseguiu.

É um desafio? Quer que eu prove alguma coisa?

Não tive coragem, disse apenas que ela ainda iria conhecer muitas mulheres maravilhosas. “Como você?” Ela perguntou rindo. “Sim, como eu” Respondi rindo também. Não pulei em cima dela e não agarrei seus cabelos. (Embora não tenha pensado outra coisa por sequer um segundo daquela noite, de antes e de depois).

Enquanto isso.

Eu não toco em nenhuma das minhas outras amigas, e nunca dividi cama com nenhuma delas, e tirando algumas exceções não beijei-as também. Não desejo minhas amiguinhas, não olho tanto pra elas de longe na calçada fumando cigarro. E Carolina vai ser pra sempre minha namorada.

E nos nossos encontros tem mais jogos do que nas olimpíadas mundiais, as conversas mais duplo sentido que piada do Joãozinho. E todas as vezes que ela e seu frisson se aproximam é como se toda metafísica do mundo se explicasse na existência de um ser humano tão capaz de acelerar meu coração.

E de pisar nele, e de rir das milhares de pessoas que a escrevem poemas, e me colocar em uma compota de admiradores que  conserva.

Os canalhas ficam na melhor prateleira,  são os que babam, mas também gostam de a maltratar.

Maltratando.

Vou te maltratando, e você segue fazendo o mesmo, e vou te admirando, e você me admirando, e a gente vai enchendo a cara pra dar coragem, e se tocando de leve pra dar vontade. E de repente entre a gente tem tanta coisa, tanta gente.

Placar Final.

Ir embora sem vontade de se despedir.
E eu termino a noite do dia seguinte perdendo a hora do cinema porque essas palavras sobre essa gatinha não saem da minha cabeça.

quinta-feira, 12 de junho de 2014


sonhei com você
e o dia inteiro eu pensei no seu nome
as seis a lua cheia apareceu no céu 
enorme

pensei no sonho
tive vontade de ligar ou escrever
mas engoli as palavras que eu queria
dizer


 se gostar é no fundo não saber dizer

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Vastas imperfeições e pensamentos emotivos.


Neste mundo que é tão vasto,
Constato: são dois os tipos de seres humanos:
Os sensatos e os românticos.

Há os que sonham como um filme,
E os que não percebem a diferença entre a vida e o sonho,
O sonho e a ficção
E a vida e a ficção.

Nesse mundo tão vasto,
Constato que: em cada ser humano há um buraco.
Mais profundo que o fundo do próprio mundo.

Alguns desses buracos estão cheios de medo,
Outros de amor e de sonho,
E outros de amanhã

Nesse mundo tão enorme
O que são os nomes dos homens e das mulheres
E quem são os homens e as mulheres antes dos nomes.

Nesse mundo tão medonho
O que nos resta senão o sonho?

E no despertar raso, o que nos resta senão os prazos?
Final e ocaso.

Nesse mundo tão chato, o que sobra senão dividir os sujeitos,
E lhes dar nomes
E viciar lhes os olhos
E censurar lhes os olhos.

E sonhar e pensar e esperar. Sempre.
E se confundir bastante.

E não obstante ser acordado pelo instante seguinte
Derretendo na parede do quadro.

Diante da grandeza do mundo, e mais, do universo, constato:

-Os homens não existem no tempo.
-O mundo tem arestas
-As nuvens são feitas de sonho
-Meus olhos estão sempre procurando.
-Nunca parece que estou acordada.



a memória é como um fio,
que está enrolado dentro dos homens.
e quanto mais se puxa a ponta para fora
do buraco interno feito pelo tempo
e pelo medo
ficamos mais envoltos de história
e mais devagar fica o tempo
mais morno fica o medo