quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Microconto dos meus pés descalços no parquinho de areia do Jardim Grimaldi
Achei que encontrei um fóssil, levei para escola, mas era cocô de gato ressecado.
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Sobre coração, vinho, água e sal
meu melhor amigo disse que viu seu grande amor
vomitar o coração de uma vez
eu decidi que era hora de abrir mais um vinho
mas na seleção automática do meu computador
uma música sua começou a me tocar
e eu senti saudade do jeito que você me olha
e senti uma alegria tão grande
que vomitei meu coração naquele instante
pra ficar mais leve
e te amar com os pés,
com o nariz e com a orelha
pra te amar com a minha língua
nas suas amígdalas
deu vontade de ir te esperar na porta
de correr pela rua pra te buscar.
amigo, abre esse vinho e uma bolacha de água e sal
vamos passar a noite falando de amor.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Essa canção é sobre um rato que fez um trato com um gato.
Mas acabou rompendo o combinado
e na triste pia de uma cozinha, morto
foi encontrado.
O gato e o rato eram amigos há muitos anos
estudaram ambos no Salesiano
Gostavam de juntos tocar piano
e se divertiam vendo tom e jerry
Mas junto com a formatura
veio aquela ideia de que vida continua
cada um seguiu um caminho
mas o destino não os tratou com o mesmo carinho
o gato arranjou uma família de humanos
e pobre rato arranjou só armadilha
Não era um hamster caucasiano
acabou entrando pelo cano
os pelos ficavam cada vez mais rasos
cada dia, dia pós dia o rato ficava mais magro
a noite fria, também da medo
pra quem nela leva vida
nos becos úmidos e escuros
tudo pode dar errado.
a comida estragada
não faz bem para barriga
e quando a esmola é boa
o ratinho desconfia
o rato era atleta desde o colegial
pensou no alpinismo social
para melhorar suas condições.
mandou um e-mail contando suas aflições
para o amigo gato, que ficou sensibilizado,
e verdadeiramente emocionado
e chamou o rato pra viver na casa da sua família de humanos,
desde que o rato não incomodasse o cotidiano
Só que a convivência foi dissolvendo com comodidade
o respeito e a gratidão de uma grande amizade,
O rato estava gordo como uma capivara
e o gato levando bronca por conta da comida cara
O queijo francês sobre a prataria
tinha mais buracos do que deveria.
entre os buraquinhos o gato reconheceu
a marca dos dentinhos de um amigo seu.
ficou indignado com tanta falsidade.
possuído por muita raiva, não avisou o rato sobre uma armadilha
no bolo de milho em cima da pia.
O rato com veneno na barriga se contorcia
como se conhecesse o amor.
Ele sofreu, jurou, pediu perdão e sentiu dor
como se conhecesse o amor.
O rato se dissolveu em lágrimas
delirou e filosofou, fez uma teoria sobre a cor do que sentia
como se conhecesse o amor.
O rato mordeu as unhas dos pés, desejou abrir-se e lavar as tripas
como se conhecesse o amor.
O rato rangeu os dentes, segurou a cabeça e sentiu pulsar as têmporas
como se conhecesse o amor.
O rato viu um feixe de luz, um clarão em sua direção.
Sentiu-se queimar por dentro, e viu o mundo girar de dentro de si.
foi ele que parou.
Como quem conhece a morte.
Foi feita uma nota, uma breve homenagem no jornal do Salesiano,
No caixão o ratinho espremido mostrava alguns pelos da barriga entre os botões da camisa.
Os presentes no funeral temiam uma explosão, seguida pelo voo de um botão
Como seria possível? Tão jovem e cheio de saúde e energia!
O gato foi ao velório, mas olhando de canto sorria.
e na triste pia de uma cozinha, morto
foi encontrado.
O gato e o rato eram amigos há muitos anos
estudaram ambos no Salesiano
Gostavam de juntos tocar piano
e se divertiam vendo tom e jerry
Mas junto com a formatura
veio aquela ideia de que vida continua
cada um seguiu um caminho
mas o destino não os tratou com o mesmo carinho
o gato arranjou uma família de humanos
e pobre rato arranjou só armadilha
Não era um hamster caucasiano
acabou entrando pelo cano
os pelos ficavam cada vez mais rasos
cada dia, dia pós dia o rato ficava mais magro
a noite fria, também da medo
pra quem nela leva vida
nos becos úmidos e escuros
tudo pode dar errado.
a comida estragada
não faz bem para barriga
e quando a esmola é boa
o ratinho desconfia
o rato era atleta desde o colegial
pensou no alpinismo social
para melhorar suas condições.
mandou um e-mail contando suas aflições
para o amigo gato, que ficou sensibilizado,
e verdadeiramente emocionado
e chamou o rato pra viver na casa da sua família de humanos,
desde que o rato não incomodasse o cotidiano
Só que a convivência foi dissolvendo com comodidade
o respeito e a gratidão de uma grande amizade,
O rato estava gordo como uma capivara
e o gato levando bronca por conta da comida cara
O queijo francês sobre a prataria
tinha mais buracos do que deveria.
entre os buraquinhos o gato reconheceu
a marca dos dentinhos de um amigo seu.
ficou indignado com tanta falsidade.
possuído por muita raiva, não avisou o rato sobre uma armadilha
no bolo de milho em cima da pia.
O rato com veneno na barriga se contorcia
como se conhecesse o amor.
Ele sofreu, jurou, pediu perdão e sentiu dor
como se conhecesse o amor.
O rato se dissolveu em lágrimas
delirou e filosofou, fez uma teoria sobre a cor do que sentia
como se conhecesse o amor.
O rato mordeu as unhas dos pés, desejou abrir-se e lavar as tripas
como se conhecesse o amor.
O rato rangeu os dentes, segurou a cabeça e sentiu pulsar as têmporas
como se conhecesse o amor.
O rato viu um feixe de luz, um clarão em sua direção.
Sentiu-se queimar por dentro, e viu o mundo girar de dentro de si.
foi ele que parou.
Como quem conhece a morte.
Foi feita uma nota, uma breve homenagem no jornal do Salesiano,
No caixão o ratinho espremido mostrava alguns pelos da barriga entre os botões da camisa.
Os presentes no funeral temiam uma explosão, seguida pelo voo de um botão
Como seria possível? Tão jovem e cheio de saúde e energia!
O gato foi ao velório, mas olhando de canto sorria.
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Certa vez decidi brincar com meninos que vendiam amendoim
mas eu não era amiga deles,
me imitaram e encostaram a mão suja em mim
quando virei de costas, fizeram um comentário sobre a minha bunda.
Eu só queria ser amiga dos meninos que vendiam amendoim, mas depois disso me assaltou uma vontade de encher de soco a cara daqueles dois coisinhas sujas e rasgadas.
ai depois fiquei triste,
eu queria ser amiga deles, mas eu era menina...
O rapaz do administrativo
me disse, entre outros avisos:
-... vê se esquecesse dessa história de ir morar dentro da baleia.
-... vê se esquecesse dessa história de ir morar dentro da baleia.
sem título
Era uma vez em um quarto, na verdade, era uma vez um quarto, onde dormiam seus olhos entreabertos... eu nunca entendi a verdade...
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Um poema para uma gincana valendo 3 curingas para uma colecionadora! :)
Eu gosto dos mascarados,
dos músicos, dos circenses, dos animais,
dos palhaços que olham de lado,
ou que olham de cima para os outros iguais.
Das cartas que não servem,
na maior parte dos jogos de baralho,
Que são descartadas ou as vezes pintadas,
para substituir outras cartas.
Das cartas que seguram cartas na mão,
ou instrumentos de profissão.
Que usam fantasia,
e sorriem com malícia.
Elas não fazem parte do baralho de paciência
Nem do poker, da canastra ou do montinho,
do truco, do porquinho ou da tranca.
Se perdidas não assaltam a lembrança
Das cartas que podem ser esquecidas,
Que são sempre as mais bonitas,
Que podem ser levadas, dadas,
Não sendo de ouro nem de espadas,
Que são, por mim,
as vezes roubadas,
para o próprio bem.
Eu ganhei três cartas marginais
Elas não fazem parte,
não jogam em naipes ou em grupos, são ilegais.
Ilegítimas e sem documento,
sem clube, horóscopo, time de futebol ou departamento.
Eu ganhei três cartas que tem a cor vermelha
E provavelmente o mesmo fabricante,
O mesmo verso, mas são extremamente individuais.
(Até os curingas que vem em pares, dificilmente são iguais).
Minhas cartas nunca estarão tristes,
no máximo ariscas ou de prontidão.
E quando fazem parte de algum jogo,
se dão bem em qualquer roda,
se misturam aos de Paus ou de Copas,
E continuam sendo quem são:
mascarados, músicos, circenses, animais,
palhaços que olham de lado,
Ou que olham de cima para os outros
em seus naipes, nos seus clubes, ou em seus grupos
de iguais.
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Luiz não combinou com os russos - Cap.3 Uma máquina que dizem apitar como coração mas na verdade apita como máquina.
Não
tinha lembranças de sua avó em pé, certa vez quando mais novo
entrou no quarto da avó e descobriu as pernas dela, mas para sua
decepção eram normais... Então porque ela não se levanta? Vovó
está sempre dormindo com a porta do quarto aberta, a cama e a
máquina de frente para porta...
As
pessoas comuns precisam comer para viver, mas vovó vive ligada na
tomada, talvez seja por isso que ela só dorme. As vezes as pessoas
falam da avó como se ela estivesse morta “foi uma grande mulher”,
“ela era muito difícil”, “ela era muito inteligente”. Mas
vovô diz que ela, mesmo dormindo pode escutar. Quando ele vai
conversar com ela, fecha a porta, todos ficam curiosos, mas ninguém
nunca se esforçou pra ouvir, medo de ficar triste.
Luiz
acordou da primeira noite dos próximos longos meses na casa dos seus
avós ainda com sentimentos tristes e a estranha sensação de
enforcamento que o fazia perder a força para falar. Antes que ele
descesse as escadas seu avô lhe chamou em seu quarto.
O avô perguntou se Luiz sabia ler bem. Luiz fez que sim com a cabeça e vovô pôs-se a falar-lhe:
-Luiz, você sabe que sua avó escuta tudo que dizemos a ela, não sabe?
Fez que sim com a cabeça.
-Pois bem garoto, você poderia me perguntar como sei disso com certeza, não poderia? Você poderia duvidar de seu avô, mas eu posso lhe provar que sua vó esta mais viva do que todos nós, e mais viva do que muitos pensam.
Luiz percebia seu avô preocupado.
-Ontem à noite conversei com ela que você passaria alguns dias aqui, seu pai me ajudava muito com sua avó, mas seu pai agora está viajando, eu e ela precisamos de você. Vem comigo.
O avô levou Luiz até o quarto da avó, ambos pediram licença para entrar, o avô abriu um grande armário, nele havia vários livros. Vovô pediu para que Luiz escolhesse um e começasse a ler apenas para si mesmo, depois lesse a mesma parte para sua avó.
Conforme Luiz ia lendo para ela a história ia se transformando, as letras no livro reescreviam-se, ele viu aparecer uma outra senhora, dona Maria, na casa de Jean valJean. Luiz fechou o livro rápido e assustado, nesse mesmo instante as pálpebras da sua avó se mexeram muito sutilmente contraindo-se e relaxando em seguida, mas esse movimento pareceu durar horas diante dos olhos de Luiz e do Avô, ver o pequeno movimento da avó foi como ver aquela casa toda indo ao chão e virando pó.
Luiz sentiu que não conseguiria falar nunca mais, ficou com medo do avô brigar com ele por conta de sua reação assustada, ou por ter feito a avó o responder, mas o avô foi compreensivo.
Vô Bernardo abriu o livro que Luiz deixou cair no chão. A história era outra, em outras palavras.
-Sua avó merece viver, não podemos contar isso a ninguém, não podemos confiar este segredo a ninguém. (Silêncio) Luiz, eu não consigo mais ler, você precisa ajudar sua avó a viver suas histórias e esse vai ser nosso maior segredo.
Luiz, nunca tinha imaginado que toda vida é uma história, e também jamais tinha imaginado que a vida da sua avó, que parecia apenas reticências nas folhas em branco dos próximos dias, seria na verdade muitas histórias.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Luiz não combinou com os russos - Cap.2 Sem soltar as mãos.
(Alguns dias antes)
Mamãe lhe amassou o rosto, ele
gostava disso, desse carinho exagerado, de sentir as bochechas quentes da mãe
na sua... Mas naquele dia ela estava nervosa, Luiz sentia o coração dela bater
forte durante o abraço, o pai também o abraçou. Já perto da porta o pai deixou uma lágrima chorar
dos olhos. Ninguém conseguiu dizer nada. Tudo tão rápido como algo que não pode
estar certo. O avô o tomou pela mão, mas sem nenhuma ansiedade.
A mãe havia colocado em duas
mochilas, roupas, brinquedos, objetos de higiene e materiais escolares, com as
mãos tremendo de amor e medo. Luiz observava as mochilas no canto do sofá
florido de rosas e margaridas, as malas lhe preocupavam o peito, sentiu o
coração querer parar, tontura, enjoo, mas não se moveu, sentiu como se alguém
lhe friccionasse a garganta, tentou falar e não conseguiu. Ressentimento. Olhos
vazios. Desfocou as mochilas, mas seu avô percebeu a partir da direção de sua
cabeça que estavam subindo sem levar as coisas, mandou Luiz pegar as malas, mas ele não ouviu. Tempo. O avô engoliu seco,
e disse de novo:
-Luiz, pega suas coisas pra a
gente subir e dormir – E desta vez completou com as palavras mágicas - vai dar boa noite para sua avó.
O tempo rasgava o avô por dentro,
o micro tempo entre suas próprias palavras, entre elas e o Luiz, entre tudo que
as palavras não poderiam explicar, e tudo que Luiz sentia sem poder entender
consumiam o velho, fazendo seu sangue ferver. Tudo muito triste, a avó era sempre
uma estratégia de convencimento, mas pela primeira vez Luiz entendeu seu avô,
entendeu como a saudade maltrata o coração. Sem soltar as mãos, pegou
uma das mochilas, vô Bernardo a outra e subiram para dar boa noite à vovó.
Luiz não combinou com os russos - Cap.1 Tempos de corações gelados
Luiz cruzou a sala, seu avô
trocava os canais da televisão, em preto
e branco e entre faíscas, os rostos dos artistas se revezavam dizendo pedaços de
palavras que se completavam criando um idioma esquisito, “televisionês” pensou
Luiz, e sorriu. Então a mão do avô pousou lentamente o controle remoto no braço do sofá, entre aqueles rostos apareceu Garrincha, Luiz se
aproximou.
O sofá da casa dos avós era muito fofo e entre
as almofadas tinha sempre alguma coisa, farelo de bolacha e cabelo era o arroz
com feijão, mas de vez em quando tinha mola de caneta, clips, macarrão cru (que
o avô gostava de comer), e das vezes que o Luiz tinha sorte, encontrava uma
moeda.
O avô após repousar o controle,
encostou a corcunda no sofá, apenas a parte mais protuberante das costas tocava
o encosto florido de rosas e margaridas. Vovô estava com os olhos vidrados no
jogador, um ídolo. Luiz se sentiu obrigado a olhar, parecia que aqueles olhos
na televisão olhavam os seus. No meio de uma entrevista, Garrincha dizia rindo:
-Foi então que eu disse pra ele:
Mas o senhor já combinou com os Russos?
Aquilo só poderia ser um sinal.
Luiz sentiu medo. Pensou em contar para o avô, mas não conseguiu. Tinha medo de gente brava, o avô ficaria muito nervoso, Luiz sabia desde sempre
que não deveria entrar ali. Não sabia o porquê, nem lembrava quando foi que disseram que não era permitido, mas ele sabia que não poderia. Ele não deveria nem saber onde aqueles livros estavam.
O velho trocou de canal,
propaganda das lojas pernambucanas, elas não querem que a gente deixe o frio
entrar. Luiz pensou em não deixar o medo
entrar dentro dele. Enquanto isso o avô de Luiz tinha medo de quem eles tivessem entrado na
casa do seu filho na noite passada, estava ainda sem notícias. Tempos de corações gelados...
Luiz não combinou com os Russos,
e já era tarde, ninguém poderia saber dos lugares onde ele esteve, aquela
coleção de livros de capa vermelha e dourada deveria parecer escondida e
empoeirada como sempre. Agora ele e o medo esperavam para ver o que seu
atrevimento causaria na história, nas histórias e na sua própria história.
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