segunda-feira, 14 de setembro de 2015

então aqui não tem mais nada seu
nenhuma camisa com seu cheiro pendurada

nao tem nenhuma palavra boa
que possa definir o que voce me fez

logo que eu peguei as chaves
viemos os dois ver o apartamento vazio.

a gente fez amor no balcão
dormiu em cima da capa do violão

eu não sentia falta de nada.

Poema inspirado no drama estático de Maeterlinck

a mãe é muda
o pai não pisca para não acordar a criança
que dorme ou mama
no peito da mãe
com os pés sobre o pai

a noite reclama
garoa fina
saudades de antes
uma nuvem de medo
distante se aproxima

os olhos estáticos da menina no rio
o corpo estendido no frio
vem boiando na água até a porta
da cabana de madeira
de paredes tortas

a noite é muda
mas não é surda
as gotas escorrem pela telha
o sangue pelas veias de quem vive
e quem não vive é paisagem

todo mundo quer viver e não sabe como
o inferno é o outro
ou é a gente mesmo e os outros não ajudam
não adianta…
parece que melhora, mas cansa

não há confiança que não se traia
os olhos desviam da respiração intermitente
do casal que não fala
e que mente expirando
o que sente e não traga

tem um corpo boiando no rio
a nuvem de medo distante
é roxa e preta e azul da cor da noite
o sangue vermelho no rio é da cor do sinal
uma luz forte em sua fronte

desce do carro
respira o sereno
tem uma mulher e uma criança em casa
o inferno é o cheiro de gasolina do carro velho
ou é viver sabendo que vamos todos morrer?

a luz do farol é verde
violentamente verde em sua paciência
o corpo dói mas se aguenta
a criança é muda e chora
rasga o céu em um grito amargo
tudo é dor e tudo é silêncio

a sensação é de que não passa



quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Este homem velho é um senhor muito potente

Quase me fez desmaiar, feroz.
Isso é o que chama de instinto?
Instinto assassino!
De olhos fechados
Te vejo com meu intestino
Me ensina?
Quer que eu te mostre?
Eu te ensino!

Eu quero correr

Quero viver
Quero lutar com as mãos

Hoje o céu se abriu
Hoje eu te amo mais

Hoje eu quero seu braço 
Eu quero 

Seu traço 
Me traça 
Me abraça 

Eu sou potente 
Seus olhos são um poema 

Seu corpo é a paz de um poente 
Três da manhã de quinta-feira

No escuro do seu quarto
Seu coração é uma vela acesa

As margaridas da toalha de mesa
Suspiram escutando nossas almas no quarto

No seu corpo diante da janela
Meu infinito descansa e espera 

Com a cabeça no seu peito
Deixando seu cheiro me invadir por dentro

Não me deixa ficar 
Meu corpo quer ir 

Eu vou 
Eu sou 

Eu vou 
E te quero com todo meu destino

De olhos fechados
Te vejo com meu intestino

Quero com todo meu coração
Escrever sobre os seus abraços na palma da minha mão

Eu sinto com minha coluna no colchão
seus pés subindo a escada

Eu sabia
antes de você dizer 
que eu era sua namorada

Eu sabia
antes de você dizer

Eu desfruto de todo seu amor nadando nos seus olhos

Hoje eu quero correr
Expandir

Quero te comer
Te existir

Eu encontrei o mundo todo
o universo em um mapa roto

e lembrei do seu rosto 

Trepar com você me faz renascer um pouco

Encosta nossa pele assim
voce quer toda a entrega? De verdade?

Quer trégua?

Me pega
Se apega sem querer, que bom se contradizer

Se esfrega
Com prazer fica melhor comer

Escorrega
A língua com todo direito à ser

Entrega
Ouro, prata, lata 

O fenômeno da vida e da criação é o encontro das almas

São mais de um milhão

Mas foi a minha e sua
Segura na minha mão, segura

Que amanhã é sempre a calma do furacão

Quem sabe do outro dia?

Depois do sol pode nascer feijão
depois da lua pode nascer margarida

Tudo é surpresa na vida

Cetim na areia

Mostra a sua voz
Outra vez você

Olhar te assim
à sos

Dois faróis azuis

Na areia à meia luz
A seda urgente, a cruz

Vejo o mar alvo, azul

Você

Mostra a concha ao sol
Me convida a ver.



Mayara

Corre! O vento sopra no mato forte
Se esconde!  O vento volta do ar distante
Se expande! Enrola seu cabelo no milharal
Se volta! Confunde as cores no atrito leve
Me leva!

Sonhei com você de short e sem blusa
na minha rua..

O passo leve,
o olhar risonho...

Eu preciso aprender a te contar sobre os meus sonhos