Naquele momento realizei que estava vivendo umas das coisas
que mais gostei de viver. Parecia que o
som batendo entre as paredes da torre me fazia cócegas na barriga e no rosto. Toquei aquele sino, tão alto, tão alto, tão
forte e tantas vezes que ficou tudo borrado, o cenário inteiro. Da janela a lua
era um feixe de luz branca em câmera lenta. A noite, a cor do sino e a cor das paredes eram
sombras e contornos e estavam quase misturados, feito cores esperando serem homogeneizadas
em um godê.
Eu só sentia os braços do meu amigo anelarem minhas pernas,
era como se eu não existisse senão seus braços me abraçando as calças cor de
rosa. Meu braço todo esticado empurrava
o martelo como se minha vida dependesse disso. As badalas se misturavam a minha
risada alta.
Olhava pra baixo e encontrava os olhos do meu amigo, ele inteiro sorria. Mais e mais, eu deixei
todos os meus dentes rirem, sem parar de empurrar o martelo, vi meu corpo
inteiro se contorcer “me segura forte”
nada no mundo me daria mais prazer do que aquele sino tocando tão alto do meu
lado e confundindo tudo que minha cabeça pensava e poderia vir a pensar.
De repente meu amigo me pois no chão, estava tonta, me
joguei no seu corpo, um abraço. Ainda ouvia o sino, ainda estávamos dando
risada, estávamos embriagados.
Fugimos enquanto seu
lobo não vem. Deixamos a igreja ainda com pouco de febre, num trem pras
estrelas. Ai em seguida descobrimos que
perdi vinte reais. Isso não foi legal, mas ainda sobrou êxtase pra terminar a
noite em frente a uma paisagem cantando Cazuza e tocando violão, fizemos xixi juntos... O céu de São Paulo as vezes é bonito...