terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Feliz Ano Novo IV

Este ano pensei que não conseguiria, e começo com isso pensando mesmo que não vou conseguir. Não tenho tido muita vontade de usar virgulas, de escrever os pingos dos is.  Não sei muito bem se ando com vontade de esquecer ou de perdoar, meu pai. Talvez esse ano você espere um poema no ano novo e ele não venha, talvez não se lembre. Eu lamento pelo o que nos separa, por ser tão difícil superar os pequenos orgulhos, mas mais do que isso superar as faltas, os excessos. Lembrar da nossa última viagem longa de carro é bom, eu ainda amo cantar a música do sabiá. Não sei se você se lembra, acho que eu queria que lembrasse... Feliz ano novo, acho que em dois mil e quinze meu coração estará mais pra sopa do que pra pedra, e isso pode ser uma boa oportunidade pra encontrar o que verdadeiramente importa. Desejo que você nesse novo ano não se sinta sozinho e faça caminhadas.

Encaminho uma fotografia da última viagem.

Duas mil e quinze mutucas,

Tico.




segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Obsceno:

Adjetivo masculino: Sensibilidade, afeto, carinho, gesto sincero, delicado, bonitinho, romântico.

Onde fica

o grande museu das sensibilidades perdidas

dos vazios  imensuráveis

dos silêncios não ditos

onde está a distância

que um ponteiro

jamais poderá

passar

Meu nariz no seu cu

Um comentário bastante indelicado foi proferido de maneira muito polida e com palavras ditas bastante rapidamente porém continuou sendo inconveniente meu novo namorado me questionar sobre o amontoado de caixas de papelão dispostas sobre o chão da sala (foi indelicado porque eu já tinha dito que estava passando por uma separação e também porque era muito cedo para eu ter que explicar alguma coisa) na hora eu não pensei muito disse simplesmente que tudo aquilo era do falecido hoje percebi na minha relação com as coisas com as suas coisas: você foi o corpo morto que eu profanei que eu abri e estudei e cavei e procurei desrespeitei o óbito  com quem eu dancei na sala a camisa com quem eu dormi de conchinha a pilha de roupas onde eu enfiei a cara  e cheirei e chorei e afundei as unhas e sequei o choro e dancei de novo quero que fique bastante explicita a questão do falecimento por isso retorno a uma narrativa de um passado distante quando vivíamos juntos e felizes essa narrativa ilustra muito meu papel na nossa relação eis a narrativa: uma cueca suja no chão do quarto ou no canto da cama parecia encaixar-se muito anatomicamente na minha cabeça de modo que o seu cu ficasse no meu nariz você estava estudando ou no facebook e eu aparecia assim na sala exibindo meu nariz no seu cu você ficava envergonhado dizia que estava podre (a cueca) e em seguida ficava bravo naquela época você era vivo apesar de saber que ficaria bravo eu não tinha vergonha de te mostrar minhas aventuras anatômicas com sua roupa na verdade aconteceram muitas coisas entre eu e elas depois que você foi embora eu te xinguei muito tanto que ao encostar de novo nas suas roupas me senti profanar meus próprios demônios me traindo por te perdoar você me magoou tanto que um perdão só seria merecido mediante a morte então eu te matei ignorei sua existência e me rendi ao prazer do seu cheirinho nas coisas antes tive certeza que ninguém me via fechei as cortinas  tranquei a porta ninguém nunca saberia então fingi que não tinha antes nem depois só eu e sua presença materializada eu falando e dançando com o morto na sala quando enfim você veio buscar os fantasmas de você de volta eu disse que tudo aquilo que você tinha era um monte de lixo que eu deveria ter jogado tudo aquilo fora que você era pobre que era um vagabundo que se trabalhasse de verdade teria alguma coisa que preste não foi só recalque era de fato tudo um monte de lixo mesmo pano puído ferro enferrujado madeira vagabunda descolando e papel amassado era mesmo e eu amava e toda aquela tralha me emocionava muito porque era exatamente do jeitinho que você era um tralha estropiado uma coisa que falta peça  eu respondi que aquilo tudo era do falecido como se um morto estivesse acima dos sentimentos de ciúme ou de ódio e de fato minha relação com tudo aquilo só poderia ter se estabelecido mediante sua morte eu não tive como resistir ao cheiro da sua roupa naqueles dias tão sozinhos  mas  de repente  assim como as coisas de todo morto não costumam permanecer intocáveis um dia meu novo namorado encontrou vazia a sala da minha vida.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

véspera de natal


o botão pra fechar a porta do elevador e chegar em casa três segundos mais rápido aqui no prédio não tem só tem um coração vaso vagal vagotonico sofrendo com as exigências funcionais e aceleradas da contemporaneidade é terça feira véspera de natal quem precisa de elevador para ir ao segundo andar como apagar as luzes da minha rua como não gritar com os bêbados e loucos transeuntes do hospício a céu aberto que é o bairro onde moro chamado centro da cidade de São Paulo vulgo cracolândia se eu olho para todo mundo porque ninguém olha para minha janela porque ninguém olha para cima para os meus sonhos de menina hoje me deram dezesseis anos enquanto eu bebia pinga com groselha e quase gozei na calcinha redescubro em mim sempre essa estranha felicidade em ser jovem e sozinha em estar frágil e desacompanhada de noite por que essa gente ainda se espanta eu não quero que o tempo passe por favor quero chegar antes quero um botão que faça a porta do elevador fechar três segundos antes por favor porque tem tanta coisa entre a porta e a cama entre o céu e a chama que inferno os meus dedos colidem com um par de sapatos com a quina do criado mudo da noite muda da minha sala de estar sempre aflita de repente eu penso no natal do ano passado  na gente junto do frango que nunca ficava pronto do vinho que ganhei da minha chefe vinte por cento álcool e de dormir abraçado de contar histórias para o seu pai deitada na cama dele seu pai é um velho bonito que concentra nos olhos muito tristes todas as coisas que você tem de bom seu pai é mais uma das coisas no mundo que não se entende hoje é véspera de natal e meu coração começa a gostar das casualidades de ser uma pessoa só o que não tem muito a ver com ser livre mas experimento ser só e ser livre em um momento coincidente experimento de maneira tímida só não sei porque muito bem hoje a música raspou as paredes de mim arranhou por dentro quantas vezes é preciso respirar para equilibrar o corpo com o meio o que eu preciso fazer para ser menos estranho ser um ser humano vivente nesse planeta por que o amor dá medo por que ter prazer dá medo é melhor ser ou estar eu quero que a janela seja apenas mais um elemento da paisagem eu não quero estar para algum lado de dentro eu sou essa confusão chamada de cidade eu sou a pessoa que um desses malucos transeuntes vai encontrar no balcão de qualquer esquina eu amo essa gente fedida muito triste e muito maluca  e que sabe ser sozinha mesmo eu também estou desistindo do que eu acreditava acho que isso se chama experiência em uma encarnação mais evoluída se eu acreditasse em encarnações mais evoluídas eu acho que não acreditaria mais em nada enquanto não enquanto ainda nessa vida aceito que não posso pagar o que devo ao santander não posso apagar as luzes da minha rua e vou pra cama olhando para o foco de luz no poste ouvindo os carros rasgarem o asfalto molhado de chuva e os corações que não dormem nessa terça-feira doída.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

ter uma namorada

não combina com um rockstar

sábado, 13 de dezembro de 2014

Sobre a dor das pequenas perdas

-seria bom, não seria?
-a gente nunca vai saber
-eu imagino que sim
-melhor assim
-assim como?
-ah, assim
-talvez

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

dos dias que parecem nunca ter acontecido


uma sobriedade inimaginável não acreditei que era eu em cima da bicicleta indo para sua casa às três ou quatro da manhã de um dia de porre não teve sexo aquela noite só choro e eu lembrei de mim assim de costas para alguém chorando pelo mesmo motivo algumas vezes quando a gente é gente grande tem cama de casal ai é mais solitário ainda nem se encosta mesmo enquanto eu te esperava chegar na minha casa vomitei um tanto de pinga com groselha pensava de um jeito confuso que tinha feito uma besteira que você iria precisar cuidar de mim que eu não conseguiria dizer uma palavra me revirava em casa fazendo esforços pra acertar um saco plástico de supermercado que estava furado azar pensei se te mandava embora se comia bolacha de água e sal se arrumava minha mochila se tentava ficar mais bonita decidi escovar os dentes você mandou uma mensagem, disse que estava na janela há meia hora eu não entendi nada momentos de embriagues entre  uma e três são na minha memória algo como um borrão de tintas da cor amarela e verde e roxa escura que são as luzes que reflete a noite da janela do meu quarto mais precisamente da cama ah sim e também a cor vermelha de groselha e pinga e ácido dentro do saco de super mercado desci pra te encontrar e estava ótima nova como se nada tivesse acontecido não consegui entender essa mágica  na sua casa foram muitos abraços enormes longos e desesperados o seu cheiro é muito forte e eu não sei ainda se gosto dele ou não quando a gente transa eu gosto mas esse dia não transamos nós falamos tantas coisas e não nos entendemos e engolimos mais um tanto que gostaríamos de dizer mas não dissemos porque não adianta ninguém se escuta nessa merda dessa contemporaneidade mas quando a gente transa é como se tudo estivesse no lugar virgem e leão é assim mesmo conflito ascendente em escorpião e aquário tudo na vida tem explicação exceto o fato do seu olhar ir de extremamente apaixonado para presunçoso arrogante em menos de um segundo assim de noite de perto de mim e eu não me interesso mais olho pro meu umbigo e penso que sofro não lembro quando eu dormi só lembro que estava chorando de manhã eu tentei ir embora sem você ver quando fechei a porta do elevador você  a abriu e me obrigou a dizer: -tchau

-tchau.



segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

de repente


me despeço com pressa sumo em uma esquina choro baixinho no caminho de volta passar pela rua onde você mora de repente ficou muito triste imagino seus horários se me vê passar e o que eu diria ou se não diria nada talvez contar um segredo estancar o medo te mandar ir embora te pedir pra ficar te esperar na porta fingir que não me importo crescer alguns anos chegar mais cedo voltar um pouco antes de eu te mandar sair fora agora eu passo na sua rua com uma sensação estranha de repente o predinho rosa com carro azul na frente ficou profundamente triste.

Quer ouvir uma sacanagem muito grossa?

Eu te amo.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Oi reticente

carente
pra sempre
sozinho
no cyber espaço

ele nunca respondeu

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

alguma coisa boa ainda vai acontecer

um menino magro
grita porque machucou o dedo

e ninguém escuta
seu corpo na areia

é um nó

seus olhos são alegres
em uma fotografia de alguém que não o conhecia

mas são muito profundos e muito tristes
quando choram na areia

são tristes os olhos
quando ele engole
o que, mesmo se pudesse, não saberia dizer

o menino queria chorar para sua mãe
mas não pode

então se distrai
com o brilho do sol na água

é o vento de perto desse mar imenso
que venta pra dentro

que faz o menino saber,
que nessa vida tão injusta

alguma coisa boa
ainda vai acontecer





domingo, 30 de novembro de 2014

empréstimos e a separação

Hoje o dia amanheceu meio assim cinza sabe uma velha vizinha minha falando com um cachorro de pelo grisalho um homem rouco de barriga redonda bebendo aqui do lado eu penso que devo dinheiro ao banco que não podem me roubar a sua bicicleta senão to fudida eu penso que você pensa que não precisa de ninguém eu sinto até um pouco de pena então me lembro que amanhã eu acordo cedo e que não estudei o dia hoje anoiteceu frio e eu com dor nas mãos um chinês ofereceu quatrocentos reais pela sua bicicleta você pensa que não vai ter câncer ou que não vai precisar de um favor são os males do século câncer depressão e pensar que é um super herói enquanto isso o coração dói e eu vivo os resquícios de ser um ser humano sensível na barbárie estamos brigando mas eu não queria devolver a bicicleta eu ligo pros meus amigos encontro alguém dou risada de um amigo que contou uma história engraçada de cocô, muita risada e a casa está infestada de cupim e de um vento gelado  é desesperador tirei do armário o saco de papel higiênico infestado cheio de bicho expliquei para o chinês que a bicicleta não era minha contei também da minha vida pro dono da loja de azeitonas e coisas desse tipo que são vendidas em conserva e ele disse que em um relacionamento de oito meses era sim capaz que eu ficasse com a bicicleta mas eu não sou assim eu não era mas estou pensando seriamente em evitar o drama da devolução da bicicleta para ficar com a bicicleta tipo dar um migue vou abrir mão de usar a bicicleta como álibi pra falar com você o salário caiu e o santander comeu tudinho ainda devo duzentos reais mais cento e cinquenta de encargos do cheque especial meu corpo vem criando mecanismos avançados para me obrigar a dispensar os caminhos mais curtos enquanto isso vou acumulando os prejuízos de ser um ser humano indeciso e fraco na barbárie e me pergunto o que eu posso conseguir com as minhas estratégias antisolidão quais seriam as mudanças práticas para alguma estabilidade emocional e claro a pergunta crucial quem vai ligar primeiro eu ou você e ensaio um plano para durante a ligação te desviar com toda atenção de quaisquer assuntos que lembrem de bicicleta.



terça-feira, 25 de novembro de 2014

Manual de sobrevivência

se está bebendo pinga rosa
não se pergunte porque

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Foi por falar demais
que inventei essa regra

do amor ser leve

Sobre a noite torta

o retrato mudo
sobre o criado
mudo do quarto

eu me pergunto
e me respondo
em silêncio agudo

de tudo
nada foi
como a gente pensou

a sala vazia
os copos na pia
a alma desconfia


eu tenho um plano
tenho vinte anos
e mil enganos

a cidade arde
o silencio grita
a vontade fria

do meu lado
um pensamento
apressado, me vigia

https://www.youtube.com/watch?v=15bUBn7Bgd0

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Coisa besta

Nosso amor me deixou uma sequela
fiquei viciada em assobios na janela

Antes de dormir minha telenovela
é um livro com histórias de amor

Se escuto na rua alguém assobiar
deixo o livro sobre a cama me esperar

E eu olho a rua entre as cortinas
penso que ninguém vê meus sonhos de menina

Ninguém olha pra cima
ninguém me ouve procurar

Se aquele assobio não era do meu namorado
faço cara de pouco caso

Disfarço, procuro em casa outro assunto
mas é mentira, me sinto boba

Sinto o embaraço, sinto as coisas tolas
que quando estou com você não tenho coragem de dizer



segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O poema que eu escrevi da minha avó para mim

quais são as coisas que passam pela sua cabeça
enquanto me espera abrir a porta?

seu cabelo tem a cor do sol quando chega

tudo que eu pensei em dizer
eu não lembro

é sempre do seu cabelo
que eu gosto ou não gosto.

o que está comendo?

quer ligar a tv?

eu quero morrer
quero nascer de novo

tem remédio pra isso?

nessa foto você está bem como você é
eu gosto de olhar para ela

e para o relógio, 
ninguém tem um assim.

você pode puxar a corda dele?
nossa! você arrumou até a hora! que horas são?

mas tem que empurrar a madeira,
senão não funciona mais.

já bateu? será que foi?
foi sim

já foi

Assinado: Sra. Maria José Minha Avó



Engoli um colar de mulher.

Que encontrei enrolado
Na camisa usada um dia antes

Dentro de um chapéu dobrado
Atrás do armário.

O amor não é cego
é burro mesmo

Dá na gente um apetite estranho, calado
que nos faz querer acreditar no engano.

Já faz mais de um ano
Já passou o amor

E o colar ficou entalado,
Se fosse bonito eu usaria por desaforo

Mas não era,
era dolorido mesmo

Com uma pedra verde
pesada de verdade

Ficou em cima da mesa e sumiu
não dito assim entre um e outro dia

Meu coração ficou com um buraco deixado pela flecha preta
que as estórias da minha cabeça tentam suturar.

E hoje quase meia noite
sem razão aparente

Meu coração descrente
ainda pensa no colar




domingo, 2 de novembro de 2014

Seu cabelo tem a cor do sol quando chega.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

ver te

ver te é como estar pendurada

verticalmente

pela ponta dos pés

e sentir todo sangue

de dentro de mim fervilhar


é sentir o acordar

de todas as borboletas

daquela espécie que habita as barrigas


ver te

continua sendo a vertigem mais perigosa

o despertador de sonhos 

que me fazem ter que admitir

o que não quero

e não vou dizer


ver te 

é sentir vergonha

e medo

mas mais do que isso procurar seus olhos

e querer poder

te ver

um pouco mais.


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Hoje no metrô.

Hoje no metrô:

-Mamãe, vamos descer aqui.
-Não, ainda faltam duas estações, filha.
-Quero ir lá brincar.
-Mas isso é obra de arte, filha. É vidro pintado, só pra olhar.
-Não é não, mamãe, é obra de arte para brincar.






Alguns meses atrás, no metrô.

"Pai, é ali onde os mortos que morreram ficam mortos?"  
"Não meu filho, isso é uma obra de arte..."


E depois de bisbilhotar a conversa alheia eu fiquei desconfiando:

Será que o significado de obra de arte
é aquilo que pode ser
todas possibilidades da imaginação das crianças?

Será que deixar se atravessar pela arte
faz a gente rejuvenecer?

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Simples e absurdo

Simples e absurdo

escancarado e enxuto

breve e profundo

um segundo que durou muito

porque o mundo fazia silêncio

O indizível

dentro de uma grande confusão

tento fazer calar as perguntas que me faço
no meio da calma do furacão

a gente é diferente
mas de repente a mágica acontece

eu não sei dizer
mas tem a ver com distância entre o céu e o chão

e muito mais do que posso sonhar
em poder explicar

Transborda a pele

muito devagar

mais lento

e parece que os minutos antes de dormir não existiram

e eu acordei aqui escrevendo

pensando nas borboletas que dançavam dentro de mim

em uma noite alegre e medrosa

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Se não for
amor
perco uma
rima

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Se você me ama

Se você me ama
não pode me achar estranha
por comer iogurte com geléia

Não pode me achar estranha
por dançar desse jeito
meio minhoca contemporânea

Por fazer contas inúteis
com detalhes fúteis
quando não sei o que fazer

Tem que achar legal
que eu faço poemas 
e músicas banais

Para dizer o que há por trás
de mil loucuras reais
que eu faço pra tentar ser um pouco mais

feliz


sábado, 4 de outubro de 2014

O gato assoprado

era uma vez
em um dia ensolarado
um gato malhado
então muito fortemente
soprou o vento
que agitou o movimento
da calma água do lago
mas foi tão forte o vento
que fez voar o guarda chuva
da velha viuva que mora no meu bairro
e que anda de guarda chuva
mesmo quando não tem chuva
o vento fez voar
os cabelos da janete
sobre seu sorvete de chocolate
que ela não conseguiu comer
e ficou passando vontade
fez tocar os sinos
na porta das casas dos meninos
da rua daqui de perto
soprou forte
tão forte, tão forte
que junto com as folhas das árvores
dos cabelos, dos sinos, das cortinas e das páginas dos livros
fez voar embora as manchas do gato
e foi assim que era uma vez
o gato assoprado.
Enric Balanzá

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Nos falamos

Nos falamos
depois de muito tempo
e um desentendimento pequeno
me fez lembrar
do universo imenso

entre a gente

Te vi

"Te vi
Te vi
Te vi
Te vi
Eu não buscava nada
E te vi"
Te segui
Com os olhos
Durante segundos
Congelados
Na minha memória
Pensando agora
Foi menos de um segundo
E foi muito
Foi mudo
Foi tudo
Foi coisa nenhuma
Foi vazio
Foi dentro
Foi fundo
Um vazio assim
Triste sim
Ruim
Mais ainda porque
Você
Não olhou pra mim

Declaração de amor

eu te amo sem gosto de lágrima
com uma força alegre que alarga meu sorriso quando te vejo
com um sentimento leve, atencioso
claro e calmo

eu amo as palavras que conversam
entre o corpo da gente até eu não conseguir mais conversar
e dormir em muitas noites por ai por onde morei
e por onde você morou por ai

um dia de repente 
se olhando de frente pro espelho do armário
aconteceu
eu percebi que estar com você
é fazer o mundo inteiro tocar uma sinfonia em silêncio
é fazer colorir mil flores dentro de mim

e quando encontro sua cara 
assim, por perto
ou quando te escuto falar nos meus ouvidos

eu tenho certeza de que eu tenho um amigo
e a primavera está florindo
dos meus pés aos meus tímpanos

de novo estou sorrindo
sem perceber

não importa muito se concordamos ou não
eu adoro sue jeito de dizer

eu perdôo suas besteiras que me irritam
e os dias em que de repente você está errado

perdôo que você é cabeça dura
e não cumpre os combinados

não cumpre porque me ama, 
fala besteiras sempre porque me ama muito

fico brava, indignada
mas em seguida
o meu sorriso permissivo
agradece, finge que não foi nada

meus olhos te olham de baixo pra cima
te reconheço, está tudo certo
sempre porque eu também te amo, muito


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Pleonasmo

Alguém te pergunta se está tudo bem
enquanto você toma vodka Askov.

sábado, 6 de setembro de 2014

Quando eu penso que alguém me ama.

Em uma noite vazia e solitária
É a TIM brincando com meus sentimentos.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

é um pouco triste

que as borboletas que habitavam a minha barriga

não tenham se adaptado ao seu organismo...

você quer a lua


eu quero casa
você quer rua
eu quero sol
você quer a lua

você quer o céu 
eu quero chão
eu quero carinho
você quer atenção

você é vaidade
eu sou frustração
você me oferece amizade,
e eu te ofereço meu coração inteiro

eu quero dividir
você só pensa em você
eu quero dar
você quer receber

eu quero conversar
você quer sair
eu quero ficar
você quer ir

eu sou chata
e você dissimulado
eu falo tudo que eu penso
você fica calado

você guarda dinheiro
eu quero investir num apartamento
eu quero viajar
você não tem tempo

eu estou pensando no futuro
e você quer estar sozinho
em mesa de bar
tocando o domingo

eu odeio seus amigos
e os seus amigos me odeiam
meus amigos te odeiam
e você odeia os meus amigos

eu sou intensidade
você é intenção
eu quero ser a primeira
e você um segundo

eu sou cedo 
você é tarde
eu encaro medo 
e você é covarde

você é canalha
e eu sou uma corna
você quer virar a noite
e eu tenho insônia

eu sonho muito
você nunca sonha
eu sou carente
você é um pamonha.


Indicações:
Catavento e Girassol - Guinga e Aldir Blanc
Os quereres - Caetano Veloso
A Seta e o Alvo  - Paulinho Moska


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

meu coração é urgente

meu coração é urgente
ele grita
pra dentro

ele é insurgente
bate 
de frente

meu coração é rebelde
grita
que ama, que odeia

é inquieto
indiscreto
dá show

meu coração é a febre
é demente
é difícil

me irrita
me testa
me incita

me faz querer
dizer
coisas lindas

que não vou dizer
porque sei
que ele é burro

e não entende nada
da vida

cala a boca, coração!

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

vocação

para destruidora de lares.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Vó, eu não tenho marido.

Como assim? Terminou?
É, vó, assim...
Brigaram?
É, vó....
E você não fez errado de terminar com ele?
Nem tudo depende da gente, né, vó?
Depende dos dois?
É, vó...
Dois dois quererem ficar junto, né?
É...
E é assim, separa a hora que quer?
É... Não... Na hora que não quer, que não quer mais ficar junto.
Ah, mas não era marido então.
Não era.
Se fosse era mais certo... Que chato, né?
É.
E você conheceu a mãe dele?
Sim.
Quanto tempo ficou junto?
Uns dois anos.
Dá pra se conhecer, né?.. Digo assim pra descobrir que gosta.
E pra descobrir que não gosta.
Escuta, eu vou fazer uma pergunta, uma última, e ai eu não falo mais nada, tudo bem?
Fala.
Ele é homem livre, né?
Como assim? Ele não é casado.
Ah, que bom, então ainda há uma esperança!
Não vó, não tem.
E o que sua mãe achou?
Ela não gostou.
Se ela não gostou é porque ele era bom...
Não, ela não gostou porque achou que ele foi ingrato, que não deu valor pra...
Pra o que você fazia
É, porque eu era boa pra ele.
Então foi sem motivo.
É...
Por que fica enjoado?
Isso.
E é assim?
É.
Tá vendo boba, se fosse casado agora você iria exigir seus direitos

Piscou pra mim

mas é casado.


Quinze pra meia noite no largo do Arouche

no ônibus
entraram dois homens
suados
sentaram do meu lado 

com olhares esfomeados
direcionados 
às minhas ancas
de calça branca

ambos com cheiro de puta

tem muita labuta
no largo do Arouche
às quinze pra meia noite

o busão segue pela São João
eu vou descer,
escondo as ancas com uma bolsa e uma pasta
o homem da direita olha
o da esquerda olha e disfarça

essa hora de quarta feira
todo mundo parece estar indo para casa
menos as mulheres e os homens
encostados nos postes

do largo do Arouche

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

No natal a gente vem te buscar


Dia 13 de setembro às 19h.
R. Siqueira Bueno 2123 - Belém
R$ 3 reais

sábado, 23 de agosto de 2014

Receita para você ficar bonito.

você  é mais bonito 
quando está por perto

quando as cores dos seus olhos
conversam com meus olhos 
abertos

você fica mais bonito
quando chega 
diante da minha janela

com o sorriso esperto
e alegre por poder me contar

bem de perto, bem de perto
dos beijos que  vai me dar

enquanto eu te aperto,
te agarro e te deixo ficar

no meu espaço sideral
no meu universo particular


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Foi na Estação de Trem




Estação Sé - Metrô Linha 1 Azul e 3 Vermelha  -  São Paulo
20 de agosto de 2014

Ana Lara 
Débora Santos
Luciana Maria 
Música Original: Gisely Batista
Foto e Video: Eduardo Petrini e Ingrid Oliveira

Projeto para disciplina de Fundamentos da Encenação II
Instituto de Artes da Unesp (IA/UNESP)
Dir. Coletiva


Adubando a vida.

no meu bolso,
o dinheiro contado
para beber um bocado
as chaves e o celular

mais pra dentro
no peito
vontade de falar
e pouca coragem...

vou vivendo toda intensidade
de uma sexta feira linda
fazendo merda,
adubando a vida

Depois de meia garrafa

Até eu me acho linda.

Arrogância

é um prato ingrato

você dedica toda sua empáfia
toda sua cara de cú
todo blasé que há dentro de você

depois fracassa
e tem que engolir

o gosto de bosta passada.

fracassar

não é o bastante
é preciso desperdiçar R$250 reais.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O último.

Virginia Wolf em uma ponte
Ana Karenina na plataforma
Ana Cristina na janela

Os olhos fechados
Um intervalo, antes dos pés
Um passo





Eu quis dizer eu te amo

quando te vi em um dia claro
logo de manhã com o corpo perto do meu
sorrindo

seus olhos tem tantas cores
e diante deles, eu tive certeza
então aconteceu

SOU RECALCADA II

E não queria mesmo...

Exagerado


meu coração 

existe demais

e insiste

ainda mais 

do que existe

em sonhar

com o que jamais

existirá

Foi na estação de trem





Ana Lara
Débora Santos
Luciana Maria
Música: Gisely Batista 

Estação Sé - São Paulo 20/08/2014

natalíco, natalício

natalíco, natalício

finalmente tenho 20 anos

desde o início, do início

eu sabia que esse dia teria

um gosto diferente

e foi bom, estou contente

com 20 anos e alguns presentes

música, dança, coreografia e poesia

foi assim,  e mais cheio de surpresas

sopa de mandioca, bolo de sobremesa

torta das amigas e conversas compridas

e no final do dia, missão cumprida

20 anos,  frio na barriga

no coração uma paixão

alegre e linda 

que dia! que dia!

terça-feira, 19 de agosto de 2014

banana pra você

acho que alguém, 

ou eu 

ou você, 

                  entendeu tudo errado

muita falta de carinho,

muita falta de cuidado.

acho melhor ficar cada um pro seu

                                           lado


mesmo.

em algum segundo

aquilo

           tudo

se pareceu com afeto

não sei bem quando

nem muito onde

mas em algum momento

pareceu 

        g r a n d e, sim

pareceu

especial,

importante, 

mas era impotente,

e me deixou assim, agora

com cara de babaca,

olhando para o celular

e eventualmente,

pensando em...

em...


"ai que raiva de você!

se me mandar mensagem, respondo com uma banana!"

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Poesia colorida

algumas cores são puras
outras cores são misturas
algumas são primarias
outras são aventuras

algumas cores são claras
outras são escuras
algumas são variações de uma primeira
depois de muita brincadeira!

vermelho é cor de molho de macarrão
quando é feito de tomate
é a cor do coração
que dentro do nosso peito é forte e  bate

azul é a cor do céu
azul é a cor do mar
é a cor da arara azul
e a cor do olho de quem tem olho azul!

vermelho com azul forma a cor roxa
que é a cor da uva 
que não é uva verde
que é a cor da flor da alcachofra

amarelo é a cor do sol
que de manhã eu posso ver
e a cor do milho e da manteiga
que eu gosto de comer

amarelo e azul se misturar
dá  a cor verde
a cor da grama na primavera
a cor da uva que é uva verde

já amarelo e vermelho
se dançarem vira laranja
da cenoura e da moranga
da tangerina e do mamão

vermelho e branco dá rosa
preto e branco dá cinza
rosa é cor de chiclete, 
e do vestido de uma princesa
e cinza é a cor do cabelo do vô 
e da escama de um peixe
assado na mesa

algumas cores são puras
outras cores são misturas
algumas são primarias
outras são aventuras

algumas cores são claras
outras são escuras
algumas são variações de uma primeira
depois de muita brincadeira!




segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Para melhorar só que não.



eu fiquei muito emocionada, senti que algo grande tinha acontecido

tanta coisa mudou, parece conversa de gente louca

um monte de palavras engolidas
e de histórias que ficaram sem explicação mesmo.

melhor botar tudo em um caminhão e voltar embora.

semana que vem é meu natalício

tanta coisa mudou...




Mundo Cruel

TPM
Terça-feira
Trabalho para fazer
Ninguém te liga
Ninguém te ama,
Ninguém te quer.


SOU RECALCADA

e quero que meu ex. morra.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

domingo, 3 de agosto de 2014

nas curvas da BR

hoje acho que te vi na estrada
dentro de um ônibus da viação cometa

na volta pra casa
comprei um vinho

cheguei, tirei os sapatos
botei um funk melody ( mc pikeno e mc menor) pra tocar
e chorei de amor e saudade

a vida é mesmo complicada

Conhecer uma cidade turística de um país pobre

Conhecer uma cidade turística
de um país pobre
é como conhecer todas as cidades turísticas
de países pobres

pouca coisa surpreende
tudo é muito alegre
tudo é muito triste

o turista não quer
o nativo insiste

tudo muito alegre
tudo muito triste

bonito como em em filme colorido
pelo trabalho escravo e semi escravo

colorida pelos olhos cansados,
a cidade é um seriado
que só dura a alta temporada
e que na TV só os capítulos felizes aparecem

então quando cai  o sol em um domingo
o sonho acaba,

trânsito no aeroporto e na rodoviária
todo mundo vai embora

o doce que não vendeu
vai azedar

o cotidiano volta a ser mais pobre do que alegre
mais triste do que colorido
e mais fome do que rico

a natureza não é mais paisagem
é o cenário de um filme fora de moda
não se reconhece a imagem
no cartão postal

um artista na rua suspira,
saudade da caixinha.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Engana-se quem pensa

As vezes é um tanto cansativo
Que tudo seja uma questão de perspectiva
Mas não tem outra alternativa
Assim é se lhe parece
É de pontos de vista que é feita a vida

E engana-se quem pensa
Engana-se quem pensa...

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Eu vou fazer vudu

Vou chamar o saravá
Pra te mandar pra lá

Vou chamar o capiroto
Pra te levar pro esgoto

Eu vou chamar o cão
pra te levar pro caixão.

Vou fazer muamba
Mandar fazer mandinga

Vou sacrificar uma galinha
Pra te ver só no osso

Vou te causar desgosto
Vou te botar na boca do sapo

Vou acender uma vela preta
Pra jamais tu comer buceta

Vou acender vela amarela
Pra tu pegar uma salmonela

Acender vela roxa,
pra te dá caibra na coxa

e uma vermelha,
pra tu ter comichão na orelha.

Eu vou te sabotar
eu vou te maldizer

Vou furar teu pneu
vou riscar os teus CDS

Eu vou fazer vudu
vou fazer mandinga

Pra tu pegar lombriga
do olho do cu até a barriga

Pra você cagar mole
feito pure de cocô

Pra você ter dor de barriga
no meio do metrô

domingo, 27 de julho de 2014

escuta

escuta, os tamancos das putas
da sua rua, riscando o asfalto
de salto alto de decímetros
em dez graus centígrados
escrevendo epílogos
de fuligem e poeira
cheirando carreira
tomando besteira
sonhando muito
pensando alto, falando tanto
dando amor, generosa
a carne cor de rosa
goza prosa, até amanhã




sexta-feira, 25 de julho de 2014

O que vai ser:

O que vai ser, será o meu coração estúpido querendo pular da boca e se rastejar aos teus pés enquanto minhas pupilas se dilatam como se eu estivesse cheirando cola -não- como se eu tivesse acabado de respirar o último segundo de uma primavera maravilhosa, flores flores flores mortas em um cemitério como se uma galinha preta fugida  de uma macumba macabra metesse o bico no meu peito rasgasse minha pele e ciscasse meu coração lentamente e comesse ele inteiro visceralmente, ali, na reta na rua  na porta no portão ali porra, onde eu costumo te encontrar de segunda feira nos últimos anos. Vai ser assim quando eu te ver e virar o rosto e você me olhar para me sacanear, para me torturar, porque você sabe que você que foi embora você que quis ir embora e acha que eu não tenho direito de ficar puta -não- de ficar revoltada -não- triste magoada sofrendo sentindo sua falta intensamente profundamente e de uma jeito bastante miserável assim com esse sentimento no peito de ressentimento, muito bem, parabéns, 10 pontos para sua vaidade imbecil, agora não procura mais os meus olhos e vira essa sua cara pra lá, enfia ela dentro do buraco do seu violão de merda e não tira nunca mais. Isso bom, muito bem, ótimo. Vai ser ótimo, eu estou linda -não- eu estou horrível é verdade eu engordei, meus amigos fingem que eu não engordei, meus amigos te odeiam, meus amigos percebem que eu perdi o assunto, que eu fiquei muda, que eu não consigo continuar dizendo algo que faça sentido. E a gente anda as pessoas falam muito e meu coração descompassa, é isso mais devagar, eu vou voltar pra casa e vomitar poeminha cu no meu bloguinho cu procurar um site mais sentimental masturbação SMS comer deitar pensar que tudo poderia estar muito diferente muito diferente, vai ser assim, assim que vai ser quando a gente se ver.