terça-feira, 30 de abril de 2013

Tô morrendo de sede do veneno antimonotonia.
Desafeto pelo afeto, estou afastada da lembrança boa
Esqueci de como antes de cada pequena morte vem a euforia

Só lembro de mim, chorando, só lembro de mim triste.
De boca seca, de, sob os botões,  peito apertado...  Tô com saudade...
Eu ainda gosto, eu ainda gosto de você... Acho que tem algo errado com o clima...


só pode ser a estação...



segunda-feira, 29 de abril de 2013

doze estrófes para o meu herói


Do meu heterônimo mais romântico, (aquele que faz arroz com couve flor, pra nós dois.)


Meu herói tem os olhos mais bondosos
que já viram meus olhos medrosos

E eu tenho tanto pra dar
E eu tenho tanto medo.

Meu herói toca guitarra
E tem calos em todos os dedos

Me esfrega os na cara
Faz carinho do seu jeito.

Meu herói tem cabelo grande
e gosto de acordar com eles na minha orelha
(ou fazendo cocegas no meu nariz!)

Fico feliz:  Quando me faz rir, falando besteira;
Gosto quando ele pede pra que eu cante;

Quando ele cozinha muito gostoso e eu duvido;
Quando está  certo e eu não acredito.

Meu herói mora de aluguel
Num quarto cheio dele.

Conserva na parede, ao lado da cama
uma gota de sangue do meu útero.
(o amor e seus acidentes de percurso...)

Ele me avisa quando não vejo que a lua está bonita
e me ensina astronomia avançada de menino do interior

Meu herói é contra o sistema,
é tão romantico e revoltado, com direito a sorriso de lado de anti--herói-garoto-problema!
(algo entre feris buller e um gatinho anarquista)

Meu herói é louco,
e eu também sou louca por ele...
eu ainda acho que vamos, senão mudar o mundo, nos salvar...





sexta-feira, 26 de abril de 2013

Era uma vez na noite de uma mãe que tinha muito medo de ET.


"Menino, seus olhos são muito curiosos, e eu também estou com medo. Mas você vai dormir, seu nariz vai parar de sangrar e você vai dormir,  não precisa acordar seu irmão, porque eu já tenho seus dois olhos assustados pra acalmar, seu nariz vai parar de sangrar, já percebeu que estou com medo? Então seja paciente e não me arregale os olhos."

-Olha pra cima
-Mãe..
-Shiu..  Pronto ó, já passou, não é nada, isso é normal...
-Se é...
-É sim...

"E feche os olhos, e dorme bem, eu vou ficar olhando, eu sei que você sempre esteve aqui, isso acontece com criança pequena, vou ficar aqui mais um pouco, mas não é por nada, só porque está sangrando seu nariz, e isso não é nada... "

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Amizade

é outono,
e as manhãs me enganam.

ao meio dia,
sempre estou melhor..

você e olhos amigos
entre música e fumaça,

eu gosto só de olhar
de ver como se revezam

os poros da pele,
os passos, compassos
o tempo, as despedidas,
o lugar...

lábios e palavras...
que bom é te ouvir cantar!

Marcondes,
adorei aquela canção do Itamar...

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Ainda sobre amor e desamor


Você diz coisas que me fazem pensar em mim meio dormindo meio acordada,
sem lugar no colchão,
sobre o lençol fugindo dos cantos
com frio, entre sonhos ruins e as coisas que não afastamos da cama para dormir

Você desvia os olhos quando quase estou acreditando
você me acorda com beijos, sol no rosto, as mãos pelo meu corpo
eu não entendo nada, mas seu pau está duro...
alguma boa idéia sobre o que fazer...

Te amo, te amo, sem entender se a noite passada ficou tudo bem.
eu estive entorpecida, não é cocaina,
mas parece que tomei um soco na cara,
foi o jeito que você me olhou?
as palavras que não disse?

me rola essa manhã,
me enrola a língua na tua,
vem, me chama pra me escutar cantar,
estamos fazendo um curso intensivo de carinho

vou te fazer entender, vou acreditar que é possível
enquanto te esfrego e me esfrego,
te chupo e te lambo,
organizo o que foi sonho e o que vivemos,
como eu bem quero...
o que eu desejo entre calafrios...

Você acaba comigo, você sabe me fazer...
sabe me deixar sua, e eu sempre caio...

Passeio nos pontos da sua pele que saltam,
eu sou uma mulher e seremos felizes.
eu amo te ver sorrir,
eu amo te ver gostando,
bom dia, eu não estou na minha casa, eu não estou na China
eu não estou de cara no chão, não estou na puta que o pariu
nem no endereço errado, eu não to fazendo merda...

Eu não tenho medo de nada,
é justo,
você acredita em mim também...
acho que é porque ainda não estamos acordados...
porque brigamos a noite passada?
minha cara ainda está inchada?
eu lembro que gosto de descobrir que não está mais bravo...

Eu ainda não sei bem se vou saber o que fazer com isso:
Você consegue me fazer mais feliz...


Inspirado em: a-mais-tola-carta-de-amor-ou-mais-tola-carta-de-desamor

segunda-feira, 22 de abril de 2013

microconto de fadas


Era uma vez, em uma terra onde os homens eram mais felizes, os urubus só rodeavam a carne podre....


boa noite


sexta-feira, 19 de abril de 2013

A mais tola carta de amor, ou a mais tola carta de desamor.



São Paulo, 19/04 outro quase inverno.

Rasguei em pedaços tudo que queria dizer, já comecei e recomecei essa carta algumas vezes. Porque eu sei que de noite você vai me ligar, sei que logo vamos nos falar, estou ansiosa, mas tenho certeza que você  não dorme sem falar comigo, e não sei se por essa, ou por outra razão parecida, meus pensamentos se recusam a descansar. Poderia fechar os olhos, imaginar o que vou dizer, mas não dormir, o medo não dorme, eu também não durmo sem falar com você.

Não preciso escrever essa carta porque vamos conversar tudo isso, você vai voltar, sei que ainda vai voltar, por todos os nossos planos, pelos enganos... Você não me deixaria, pelo nosso tempo, por causa dos afetos, e do gosto por desafetos. Eu sei que o telefone vai tocar, você sabe que eu não estou dormindo, eu não estou dormindo, eu estou chorando escondida em baixo da cama, e as pessoas em casa não entendem nada, elas também estão assustadas, mas  fingindo não me ver, uma questão de elegância.

Estou um pouco cansada de não querer voltar pra casa porque estou com a cara inchada, estive chorando em lugares públicos, não tive força para me segurar no ônibus, uma freada entregou minha cara ao chão, a face direita, me deixei contra o fim, esperei o limite. Estava ali. “Machucou?”, “Você está bem?”. Estou machucada sim, é, está doendo, mas faz tempo, está doendo, mas é por dentro...

Eu estou decidia que não gosto mais de insuficiência como patamar, e que estou com muita vontade de me jogar da escada, antes de chegar no alto, faltou pouco, eu sei, mas não cheguei a tempo para minha vez, não sou eu o que você quer. E digo ‘o que’ com muita clareza, e não ‘quem’, por razões que se pode entender, certo?

Eu te amo, te amo muito, pensar em como nossos filhos cantariam bem me faz soluçar de chorar, mas meu rosto não pode ultrapassar o chão. É impossível para mim , sou eu ou isso, é o que se pensa quando tem que levantar do chão do ônibus, e eu tive que levantar.  Estava inerte mas não tanto a ponto de perder o ponto e ir parar no terminal Teotônio Vilela, é melhor saber da sua hora.

Suas palavras foram claras, ‘há um ano você só está fazendo merda’,’ você não mudou, as pessoas não mudam’. Chega então de sofrer, você não sabe perdoar, e amar, não era nunca precisar pedir desculpas? Eu estou cansada de tentar te convencer, eu já expliquei, desenhei, rimei, tirei a roupa e virei o cu para você me enfiar. Não, jamais será o bastante.

Te desejo, te amo, te adoro, e tudo isso se confunde, é as vezes quando te encontro os olhos, ou quando te sinto me beijar, quando segura minhas coxas e me faz gozar, quando te vejo, sincero, quando me abraça e dormimos num calor insuportável e acordo misturada na sua carne, encontrando meu corpo no meio do seu, a luz da janela para o quarto, os passarinhos do meu sonho de felicidade. Meu sonho é que pudéssemos superar tudo que machuca, está tão pra dentro da gente.

Quero amputar a dor do meu coração, tem como ficar só com a paixão? Só com a lembrança daquele beijo que me deu no seio? De lado, um dia que eu usava calcinha azul... Eu te amo, eu amo a gente junto, o seu jeito de fazer carinho me esfregando os calos, quando quer estar comigo de verdade, te amo, amo  te ouvir me tocar, sua música, seu coração... Porque tem sempre um pensamento ruim para assombrar nossa felicidade? Porque  não perde uma oportunidade de me machucar? Eu me arrependo de coisas que sei que não fiz por mal, que sei que não são erradas.. eu acho que não sei amar....

Eu queria dizer nessa carta que não quero mais, mas sei que você não vai deixar ficar por isso, sei que nunca me deixa terminar com você, e ainda sim n diz que me aceita, só me sustenta por um pouco mais tempo de pé, pra me bater mais, para brigar mais. Vamos brigar mais um pouco, você vai telefonar e eu vou chorar, eu vou soluçar, vou pensar em momentos felizes e vou desabar, vou te implorar pra esquecer meu passado e prometer que esqueço o teu, vou te implorar, vou te implorar para não brigar mais comigo...

Só estamos brigando outra vez... É só amor e desamor...

quinta-feira, 11 de abril de 2013

História sobre as histórias que escrevi e não escrevi.

Durante os últimos dias tentei escrever uma história. Dediquei algumas horas, Troquei por vezes de posição, diferentes canetas, comecei uma serie de textos, mas, por fim, deixava sempre sentimentos inseguros me dominarem as mãos e rasgarem rascunhos, amassarem ideias e  lá iam elas, em bolinhas, para o cesto de lixo.

A primeira foi sobre a parede à esquerda da minha cama, sobre como estou cheia de mim sobre ela. Também falava sobre minha irmã dormindo ao meu lado direito e as sombras e marcas deixadas nas paredes do quarto durante algumas noites de alguns anos dormindo ali. Sobre minha vontade de arrancar com as unhas todas as marcas de dedo na pintura, riscos de móveis antigos e sujeira, imprimindo linhas de sangue do meu dedo, como contas de dias para sair dali.

Outra história era sobre uma grávida que queria alugar a casa da minha avó para ser feliz. E eu odiei aquela mulher, que me ofereceu a mão e eu cuspi, depois cuspia nos seus olhos atônitos, que nada entendiam, só escorriam, baba e lágrimas, pingando na enorme, horrivelmente enorme barriga. Mas estou tão cheia de rivalidades entre mulheres que não quis continuar essa história, me desinteressei...

Como pensar sobre o amor é uma atividade, quase de obtenção de energia para vida, para minha vida, principiei alguns textos sobre a gente, ideia fixa...  Além do poema ruim que não considerei e o recado romântico no papel higiênico, queria usar dessa relação da gente pra escrever outra coisa: uma história. Mas somos tão felizes! Estou com um pouco de sede de sofrer... Minha história teria toda graça da desgraça...

Ela seria misteriosa, com acontecimentos inexplicáveis, inacessíveis à razão, maravilhosa, brilharia como olhos apaixonados, seria de beliscar o peito, aquele aperto familiar, angustia, como ver seu reflexo no espelho depois de fazer uma besteira. Mas acabei escrevendo sobre a vontade de dizer. Foi porque não sei dizer.

Foi por não saber dizer. Percebo está passando, elas estão indo. Sei tanto da minha vontade, mas não sei dizer. As histórias estão mais ou menos por ai, em papeis amassados e rasgados, em passados passados, que meus olhos viram e não registraram, que não tive palavras para dizer. Só seria história se eu dissesse? Ela não precisa de mim, não quanto eu preciso, e quero, sentir de novo o que senti quando a história era presente. Ah! Tudo isso é tanto! Ah! Se eu soubesse dizer!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Afirmação


Eu sou poeta
ou uma tentativa

sem muita certeza
nas palavras escritas

continuo escrevendo,
em letras, gestos e desenhos,

poesia
sobre
a vida

antes de alegre ou triste,
antes de suja ou limpa

antes de saber escrever,
eu já era poeta

antes de conhecer,
eu já amava,

belezinha que é
esse belisco no peito

essa vontade de dizer...

Eu sou Arturo Bandini
Eu sou uma poesia justa

Eu nunca vou sofrer
sempre será a arte,

sempre será a arte...

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Uma história que imaginei tentando abrir seu portão.


Essa história está rota, está com pó, com a textura dos papeis da década de 60 que costumava bisbilhotar da caixa azul na gaveta de meias do meu pai.  Mas adiante, que não faz muito tempo, adiantemos para outra parte.

Caio entrou no banho, foi dar-se o homem nu as águas  quando lembramos que não tínhamos sabonete. O Caio toma muito banho, sempre estamos sem sabonete. Eu disse pra ele ir tomando banho que eu iria comprar, pertinho de casa.

Depois de anunciar minha ida, me dirigi à porta, e lembrei-me de uma questão sensível: Não sei usar chaves. As vezes consigo, as vezes não, cresci sem trancar portas, tenho por habito, desde sempre, deixar quem quisesse entrar...

Sai de casa deixando dois portões abertos, para não ter problemas na volta. Sai e o caminho que sempre fazíamos juntos, agora se confundia entre os rabiscos das paredes do Bom Retiro, ou Barra Funda, ou Largo da Banana, onde eu estou? Cadê a torre da igreja de Santo Antônio?

Foi que vi um bar, com uma guitarra pendurada na parede, Perguntei: “Ela é do senhor? Você ainda pode tocar?”. Ele me mandou sentar, nada me ofereceu, começou, soou familiar, mas não, eu não conhecia, ou conhecia? Demorava em cada tema, e seus olhos, ou  alguns grunhidos me interrompiam se eu tentava perguntar-lhe algo. Ele insistia entre os dentes cerrados “ Ouve!”

Escondia o rosto por entre os cabelos, brancos, de talvez 90 anos, longos e enrolados, barba e bigodes de naufrago, nariz pontiagudo e corpo de quem passa fome, algum sotaque. O bar ocupava a esquina, mas não era muito maior que um banheiro, tinha uma prateleira só de temperos e por entre um milhão de objetos inúteis um cheiro muito forte, dele.

Uma mistura de cheiro de sabonete, de homem, de suor de homem, de praia, de comida temperada, de pele mole e de amaciante.  O melhor cheiro que já senti, cheiro de coisa boa pra lembrar, de gosto bom na boca, de boca molhada. Quase me deixou com tesão por um homem e seus noventa anos.

Levantei-me, antes que pudesse agir ou pensar qualquer resolução em palavras ou menos que isso dentro da minha cabeça, mais rápido que um raio, antes de possibilidade, antes que qualquer algo pudesse acontecer, logo que me levantei senti sua mão no meu braço, com força, a guitarra silenciou. “Fica aqui” Ele disse.

Estremeci, senti meu corpo ferver, como se conhecesse o homem muito bem, como se soubesse de tudo, arrisquei “Por que?”,  ele respondeu, olhando pra baixo uma frase que eu já ouvi,    seu corpo, em uma camisa aberta oscilou minimamente um movimento para me tocar, para se aproximar, eu queria, mas não, ele queria, mas não  veio, deixou a guitarra pesar sobre o colo e voltou a tocar, como se só para ele, como que tímido, mas generosamente para mim, era para mim.

Especialmente para mim, e eu tinha que ouvir, sem tocar, sem chorar, e sem sentir nojo das suas manchas na pele, das suas marcas de ossos e das suas veias pelo pescoço, braço e face. Deixei ele me tocar da maneira mais devastadora que poderia, até me ver do avesso, até me ver do fim ao começo, em um banco de madeira, num bar de esquina apanhei de uma guitarra velha, de um homem velho, apanhei toda minha vida nas mãos, o mundo não é muito maior que um banheiro.

O mundo cabe em um bar de esquina, estava tudo ali, raio x, dossiê, em notas, eu queria conversar, mas ele não queria dizer, não com palavras, o céu já laranja, sensação de fome familiar, porra, como somos pobres, como somos uns fudidos, nessa porra desse bar só tem farinha. Então terminamos assim? Isso me deixou triste, cansada, pedi pra ele informação de onde poderia comprar sabonetes como quem se despede.

Minhas pernas foram embora, tentando reconhecer o caminho, e eu não entendia nada, eu sob os postes alaranjados do Bom Retiro, ou Barra Funda, ou qualquer rua suja com pessoas que dão medo, consegui enfim comprar sabonetes, Caio talvez já estivesse enrugado.

Não precisei me preocupar com o caminho de volta, o cachorro veio me buscar, me guiou até em casa, que horas são? Porra! Não consigo abrir a porra do portão! Mas deu tempo de alguém fechar essa merda?

Brigamos, eu o portão e as chaves, a vizinha abriu a porta, cheguei a tempo do  banho, entrei com Caio, que reclamou dos meus pés descalços.

Eu não poderia lembrar de nenhuma das músicas, mas e se não aconteceram?  Acontecerão ainda na imaginação de um velho sem trastes, numa quinta feira de esquina? Acho que aquele lugar tinha cheiro as nossa casa...

Tinha cheiro de lembrança boa, de que a gente já foi feliz. “ Benzinho, aqui perto da sua casa tem um bar com uma guitarra pendurada, já viu?”... Não importa muito a resposta que ele me deu, depois de algum tempo casais não precisam mais dizer sim e não um para o outro, dá pra ler nos olhos... E agora eu já sei de tudo, sei que você me espera numa esquina daqui noventa anos, com os olhos revezando os lados, com ora a frente, ora as costas me esperando o abraço.

“Benzinho, desculpa se eu demorei, não conseguia abrir o portão, não conseguia achar o caminho... Nós temos sempre compromisso, estamos sempre correndo, me seca o pé, e  me deixa te abotoar todos os botões que você não abotoaria, pronto, é isso, até daqui a pouco, amanhã, ou noventa anos de espera muda, não dói não, não é aflito, dá medo, mas foi um encontro incrível benzinho. O tempo não é ruim pra esses sentimentos...”