domingo, 30 de novembro de 2014

empréstimos e a separação

Hoje o dia amanheceu meio assim cinza sabe uma velha vizinha minha falando com um cachorro de pelo grisalho um homem rouco de barriga redonda bebendo aqui do lado eu penso que devo dinheiro ao banco que não podem me roubar a sua bicicleta senão to fudida eu penso que você pensa que não precisa de ninguém eu sinto até um pouco de pena então me lembro que amanhã eu acordo cedo e que não estudei o dia hoje anoiteceu frio e eu com dor nas mãos um chinês ofereceu quatrocentos reais pela sua bicicleta você pensa que não vai ter câncer ou que não vai precisar de um favor são os males do século câncer depressão e pensar que é um super herói enquanto isso o coração dói e eu vivo os resquícios de ser um ser humano sensível na barbárie estamos brigando mas eu não queria devolver a bicicleta eu ligo pros meus amigos encontro alguém dou risada de um amigo que contou uma história engraçada de cocô, muita risada e a casa está infestada de cupim e de um vento gelado  é desesperador tirei do armário o saco de papel higiênico infestado cheio de bicho expliquei para o chinês que a bicicleta não era minha contei também da minha vida pro dono da loja de azeitonas e coisas desse tipo que são vendidas em conserva e ele disse que em um relacionamento de oito meses era sim capaz que eu ficasse com a bicicleta mas eu não sou assim eu não era mas estou pensando seriamente em evitar o drama da devolução da bicicleta para ficar com a bicicleta tipo dar um migue vou abrir mão de usar a bicicleta como álibi pra falar com você o salário caiu e o santander comeu tudinho ainda devo duzentos reais mais cento e cinquenta de encargos do cheque especial meu corpo vem criando mecanismos avançados para me obrigar a dispensar os caminhos mais curtos enquanto isso vou acumulando os prejuízos de ser um ser humano indeciso e fraco na barbárie e me pergunto o que eu posso conseguir com as minhas estratégias antisolidão quais seriam as mudanças práticas para alguma estabilidade emocional e claro a pergunta crucial quem vai ligar primeiro eu ou você e ensaio um plano para durante a ligação te desviar com toda atenção de quaisquer assuntos que lembrem de bicicleta.



terça-feira, 25 de novembro de 2014

Manual de sobrevivência

se está bebendo pinga rosa
não se pergunte porque

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Foi por falar demais
que inventei essa regra

do amor ser leve

Sobre a noite torta

o retrato mudo
sobre o criado
mudo do quarto

eu me pergunto
e me respondo
em silêncio agudo

de tudo
nada foi
como a gente pensou

a sala vazia
os copos na pia
a alma desconfia


eu tenho um plano
tenho vinte anos
e mil enganos

a cidade arde
o silencio grita
a vontade fria

do meu lado
um pensamento
apressado, me vigia

https://www.youtube.com/watch?v=15bUBn7Bgd0

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Coisa besta

Nosso amor me deixou uma sequela
fiquei viciada em assobios na janela

Antes de dormir minha telenovela
é um livro com histórias de amor

Se escuto na rua alguém assobiar
deixo o livro sobre a cama me esperar

E eu olho a rua entre as cortinas
penso que ninguém vê meus sonhos de menina

Ninguém olha pra cima
ninguém me ouve procurar

Se aquele assobio não era do meu namorado
faço cara de pouco caso

Disfarço, procuro em casa outro assunto
mas é mentira, me sinto boba

Sinto o embaraço, sinto as coisas tolas
que quando estou com você não tenho coragem de dizer



segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O poema que eu escrevi da minha avó para mim

quais são as coisas que passam pela sua cabeça
enquanto me espera abrir a porta?

seu cabelo tem a cor do sol quando chega

tudo que eu pensei em dizer
eu não lembro

é sempre do seu cabelo
que eu gosto ou não gosto.

o que está comendo?

quer ligar a tv?

eu quero morrer
quero nascer de novo

tem remédio pra isso?

nessa foto você está bem como você é
eu gosto de olhar para ela

e para o relógio, 
ninguém tem um assim.

você pode puxar a corda dele?
nossa! você arrumou até a hora! que horas são?

mas tem que empurrar a madeira,
senão não funciona mais.

já bateu? será que foi?
foi sim

já foi

Assinado: Sra. Maria José Minha Avó



Engoli um colar de mulher.

Que encontrei enrolado
Na camisa usada um dia antes

Dentro de um chapéu dobrado
Atrás do armário.

O amor não é cego
é burro mesmo

Dá na gente um apetite estranho, calado
que nos faz querer acreditar no engano.

Já faz mais de um ano
Já passou o amor

E o colar ficou entalado,
Se fosse bonito eu usaria por desaforo

Mas não era,
era dolorido mesmo

Com uma pedra verde
pesada de verdade

Ficou em cima da mesa e sumiu
não dito assim entre um e outro dia

Meu coração ficou com um buraco deixado pela flecha preta
que as estórias da minha cabeça tentam suturar.

E hoje quase meia noite
sem razão aparente

Meu coração descrente
ainda pensa no colar




domingo, 2 de novembro de 2014

Seu cabelo tem a cor do sol quando chega.