segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Poema de luz acesa



Sua voz se fazia ouvir,
em pedidos pra que eu sentisse seu corpo
úmido, pelado, magro, e pra mim
pedindo só pra mim, por mim,
em contrações irregulares,
em frases oscilantes,
movimentos flutuantes, macios
e fortes, mete forte, cacete!
me fode!

Hoje a noite está molhada e quente,
novamente.
Eu estou na minha casa e você na sua
solitariamente.
solidariamente letras, letras esperam
fazer você me encontrar,
fazer de pensamentos que se confundem, certeza.
Esperam afirmar minha consciência,
sobre todo desejo que sinto por você.
não é só tesão,
eu te amo.

Soprei, de um cigarro vadio, esparsa fumaça.
Do céu limpo depois da chuva,
se fez uma paisagem turva.
Fez-se a lua sem contorno, e das estrelas pontos,
ofuscados pela solidão.
Vejo o fundo do copo, não encontrei o que procurava
nem uma gota como sua boca
como o que você pode me dar.
Dá na cara, medroso, dá na cara
não importa se é prazer ou dor,
sou eu pra você,
então dá na minha cara porque estou sendo honesta
e mereço que você jogue limpo
as claras, quero toda sujeira na minha cara
na minha face clara,
preciso ser mais clara?
goza na minha cara.

Eu não tenho pena te de comer o coração dizendo que te amo
dizendo que te amo enquanto você só consegue gemer
e se segurar pra não gozar.
Eu não tenho medo de dizer, eu não tenho medo de te olhar,
os olhos pequenos na cara, os poros cuspindo na face,
o sangue pulsando nos lábios, mordidos, rosados, cansados,
tarados pela minha boca,
macia como carinho de mãe.
minha boca doce,
de menina.
Seus lábios, seus lábios famintos,tarados...
eu não tenho medo de encara-los
eu encaro e digo, te amo, e digo, te adoro, e digo que você me deixa louca
digo que me perco entre os caminhos das suas veias,
do pau da testa e do braço,
porra! pra que tanta força se não pra realizar essa febre
realiza essa onda,
de frente,
aguenta firme enquanto ela se arrasta
fica e me abraça.
não goza e vira de lado,
não me beija e desvia os olhos
você me chama, me rouba
e não diz uma palavra,
me chama pra molhar a boca,
me estupra com os olhos
só pra eu molhar a calcinha,

E se me escapa mesmo,
se não me seca,
mergulho em poesia.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Minha avó não é uma gracinha

E não digo isso porque lhe tenho pouco afeto, pelo contrário, sou a única pessoa no mundo que suporta minha avó, (e nem sempre foi assim). Não se trata apenas das mal criações sem sentido, ou daquelas que infelizmente a gente entende o sentido muito bem, também não é só o fato de ela achar que pode comprar tudo com dinheiro, inclusive a dignidade de todas as pessoas. Dona Maria duvida que isso não esteja sempre à venda. O problema da minha avó está severamente próximo à maldade.

Mas antes de começar as histórias sobre minha avó, presto alguns minutos para escrever sobre ela: Uma senhora mais baixa que eu, em talvez 68 quilos, vestida de moda evangélica (mas coisa fina), e de cabelos brancos, brancos, brancos e recém cortados ( a desilusão com a religião chega uma hora ou outra) e olhos azuis de exatos 89 anos e dez meses.

O fato é que seu gênio, seu jeito, seus gestos e principalmente suas palavras, afastaram todos os familiares. Amigos? Não lembro de jamais ter conhecido algum. Os vizinhos? Colecionam histórias sobre sua crueldade e dos outros membros da família que já faleceram: Um escrivão, seu marido, meu tio, investigador de policia e meu outro tio, da aeronáutica, todos militares, tempos de ditadura... Sabem como é...

Minha avó se orgulha sempre que alguém morre, porque ela enterrou os três ( o marido e dois filhos), sem chorar. Ela não é do tipo que santifica quem morreu, para os piores pesadelos da minha mãe, ela vive a difamar seu marido e seus filhos.

Até hoje, Dona Maria não usa o telefone, porque tem raiva de telefone, porque o Romeu, o marido Romeu, colocou um telefone antes na casa da amante do que na casa deles.

Minha avó se orgulha em dizer que não casou de novo porque não quis, conta sempre uma história sobre um ‘irmão’ da igreja que foi até sua casa sozinho, quer dizer, na companhia apenas de  segundas intensões, e ela não lhe atendeu. Ele insistindo, ela passou-lhe um real por de baixo da porta, pra ele pensar que ela pensou que era alguém pedindo esmolas e ir embora.

Dona Maria acredita que com sua idade pode dizer o que quiser, e diz, e bem... Até hoje ninguém nunca bateu nela. Nem quando ela aponta negros na rua para justificar como eles “não tem gosto” e porque podemos dizer que coisas feias são “coisas de pretos”. Nem quando ela diz no restaurante para a mãe de uma criança negra que “se ela tivesse um filho tão mal educado não levaria ele pra comer num restaurante e sim em uma jaula, tá faltando homem pra se fazer filho com macaco?”.

Ainda teve o dia que ela mandou de volta a encomenda de um bolo, por  ter pedido sem saber que era de chocolate “ Vocês mandaram para minha casa uma negrice”. Dona Maria é tão racista que não come nem chocolate.

Para o infortúnio de minha avó, minha mãe casou com um homem negro, e mais do que isso, negro, pobre e de olhos claros como os dela. Minha avó nunca conseguiu superar que um negro também pudesse ter olhos claros. Com essa história de casamento minha avó só praguejou, e reclamou. Enquanto minha mãe roubava pão com carne de casa para o meu pai, enquanto minha mãe roubava pão com carne da ditadura militar para alimentar meu pai, “neguinho”, “trombadinha”, “delinquente” e preso político.

Minha avó continuou a reclamar e praguejar, enquanto meu pai fazia mestrado doutorado e criava suas filhas. Hoje quando meu pai me leva para casa da minha avó, em um carro caro, minha avó diz “ Ele é um bom preto, poderia ter se casado com uma negrinha bonitinha”.

Eu nasci branca, mas minha irmã não. Então minha avó diz que me suporta porque não puxei a negrice da família, fiquei só com sua parte italiana (Ah! a ilusão!), mas já minha irmã que é morena não é da família, porque não tem a ‘genética branca’

Me fiz cega, muda e surda, porque minha avó esta ficando cada vez mais debilitada, esclerosada, caquética e surda, mesmo. Ela precisa de alguém, de mim. Não culpo minha mãe por não ter forças, minha avó não tem o mínimo de respeito, de filtros, de consideração. Minha mãe trabalha muito, está sempre cheia de problemas, por sorte ela tem um atual companheiro muito legal, que é um grande homem. Minha avó nunca o chamou pelo nome, nunca o respeitou, é o “motorista do carro vermelho” (Aliás ela não chama ninguém que não goste pelo nome).

Cada vez mais esclerosada, as implicâncias começam a fazer menos sentido, assim fica mais fácil eu suportar calada, ontem ela não quis comer o chuchu porque se parecia com calcanhar de Aquiles. Ela sempre reclama da comida, e sempre deixa resto no prato pra dizer que estava ruim, guarda restos horrorosos até apodrecer para me mostrar que a comida estava um lixo. Depois ela vai até o restaurante e pergunta se o cozinheiro ganha mal.

Recebe uma boa aposentadoria, mas é trambiqueira, vive trocando de faxineiras e sempre quer pagar menos e humilhar mais. Uma vez, uma faxineira de confiança, que já ia na sua casa há alguns anos, teve um derrame, minha avó assistiu sentadinha, e não fez nada, até um pedreiro que passava ouvir gritos e socorrer a mulher. Até hoje minha avo lamenta que o pedreiro manchou uma de suas toalhas com sangue da faxineira. A moça obviamente nunca mais passou perto da casa da minha avó, que  diz não entender porque a faxineira sumiu e mais, que ela deveria lhe oferecer uma faxina pela toalha que estragou.

Odeio quando ela me faz rir com alguma maldade, mas às vezes, simplesmente, não aguento. Passamos muito tempo juntas, impossível não se criar algum afeto, e eu tenho uma terrível mania de me apegar a pessoas horríveis, quanto pior melhor. Minha avó me maltrata, me pisa, deita e rola. Quando precisa de algo, de algum favor, ela sempre quer me convencer porque seria bom pra mim ajuda-la, me oferece dinheiro, nunca tem humildade pra pedir.

Um dia demorei 20min para faze-la assumir que ela queria que eu lesse, por favor, para ela, um bilhete do biscoito chinês. Dizia que ela deveria ser mais doce. Demorei um bom tempo tentando explicar o que isso significava, ela me fez até ler o verbete “doce” no dicionário, quando concluímos que ela deveria ser uma pessoa mais amorosa ela ficou em silencio, por infinitos segundos, e depois disse “ Dessa vez o bilhete não serviu pra mim”. O bilhete que antes ela tinha dado tanto valor, Oh, oh! A sabedoria oriental.

Minha avó acha que eu tenho um dom, e diferentemente da minha família que não aguenta mais me ouvir cantar, ela pede que eu cante enquanto lavo a louça, o fogão, o chão, as escadas, por dentro dos canos, da privada, os cantos mais escondidos e empoeirados, é foda, porque em casa nunca fiz nada disso, porque fico com pena de deixar minha avó, minha pobre avozinha na sujeira? Mesmo quando eu sei que ela mesma sujou descaradamente para me mandar limpar? Porque? E ainda me manda fazer tudo cantando, eu faço, eu lavo, eu passo, cantando.

Eu faço tudo para minha avó, tudo pela minha avó. Não sei mais porque, antes não era assim, quando ela não precisava de mim, mas ela está tão sozinha, e precisa tanto! Quando fui viajar, fiquei sabendo que minha mãe foi visita-la e ela gritou e chorou, desesperadamente, feito criança, foi extremamente agressiva e violenta com minha mãe, por ela ter me deixado ir pra tão longe, sozinha, por ela ter tirado da minha avó a única coisa que ela tinha.

Se minha avó soubesse do apuro que eu estava passando na Europa nessa dia... É, só ela estava preocupada...

Hoje tocamos violão juntas ( eu na mãe esquerda, ela só com a direita, batendo as cordas), Saímos para comer, assistimos filmes, escolhemos flores e objetos novos para casa, fazemos unha e cabelo juntas, toda semana e ouço ela reclamar sobre tudo, e falar mal de todas as pessoas que não são como ela, de todas as pessoas que não são ela nem eu. Peço sempre para ela não falar da vida dos outros, pelo menos não tão alto. Peço sempre pra ela respeitar negros índios e japoneses, mas sinto que essa batalha está perdida.

Detesto pensar em quando vou perder minha avó, sendo que durante quase todos os anos de minha vida, quando eu tocava sua campainha e ela demorava para atender, eu sonhava para que ela estivesse morta, e mais, sonhava em levar para minha casa seus moveis belle époque. Um filme se passava pela minha cabeça, quanto mais ela demorava para atender mais eu vibrava, imaginando a partilha dos móveis, cortinas e tapetes.

 Eu precisei crescer para ser capaz de perdoar a minha avó, talvez pareça incompreensível, eu não sei como se parece de fora, mas hoje eu a vejo tão fraca, tão senhora.

Dona Maria, por que você não é doce como a avozinha da novela? Por que não é como as senhoras dos comerciais de margarina? Avózinha do céu, por que você não é uma gracinha? Posso julgar alguém por te odiar? Sou pior por gostar de você?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


quero que asas me tenham


leve

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Eu deveria ter ido embora quando você escreveu um telefone sobre o poema que eu te dei. Agora é tarde demais.

Agora eu te amo.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Uma mulher, não um poema.


aquelas coxas brancas
contra a pedra,
os pés seus, e dela
cravados na areia

pontos na pele saltam
com vento ou com seus dedos

que acariciam a pele de uma mulher
e não a pele de um poema

e não apenas mulher
uma mulher bonita,
mais bonita que eu
mais bonita que tudo que já te escrevi

com os olhos claros perto da noite
e escuros perto do dia
uma mulher linda
que tirou o melhor proveito de todas as suas idades
feita.

ninguem precisa de um poema
mas enquanto batiam suas coxas
entre as ondas, você teve certeza
que precisava dela,

"luciana maria, ninguem precisa de um poema
eu não posso me alimentar de letras
e nesse instante realizo que a sede
do que há em mim de masculino
é sobre aquele par de pernas
contra o meu corpo
contra solidez da rocha
solitariamente sem rima"

"luciana maria, eu não posso me alimentar de poesia."
"luciana maria, você não vai acabar comigo"


Em Resposta à: Monólogo (trecho VII)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Senão nos acordar, o que estão fazendo esses pássaros?


Sonhei com você, sonhei que você não tinha medo, e por trás de nós o céu era azul como nunca foi nas manhas que andamos de mãos dadas na Barra Funda. Agora, de mão e imaginação atadas, escrevo vacilantes letras e palavras, sem certeza se nosso próximo encontro será como queria que fosse ou se serei eu tentando roubar seus olhos ao som dos passantes, da banda multidão, da fanfarra de um milhão, da orquestra sinfônica de pessoas que não falam a minha língua, que não me conhecem, que não conhecem a minha língua (não como você conhece) e nunca vão saber o que meus olhos procuram nos seus.

Eu não sei o caminho da sua casa, mas eu sei da cor dos seus olhos, e poderia dar nome a mais de 50 tons de marrom, eu conheço o desenho das veias do seu braço, enquanto você segura forte o braço do violão, ou o meu braço, ou minha cintura, ou meu seio, ou meus dois seios, ou todo meu desespero. Eu conheço sua voz entre outras vozes em uma gravação, e eu já voltei algumas vezes teu verso pra te ouvir de novo, dizer qualquer nota. Confesso que reparo nas manchas das suas costas, isso significa que sei coisas sobre você que você não sabe, eu vi em ti o que você ainda não viu. E eu sei que eu vi,  e poderia dizer longitude e latitude da sua cicatriz da escada, e de outras marcas, que eu vi com todo meu coração.

 Eu poderia dizer sobre seus lençóis e toalhas ou sobre as suas meias e cuecas, sobre a tapware que você usa de saboneteira ou poderia cantar como bate o seu coração, eu acertaria a nota de primeira. Mas faz quase um ano e não sei o caminho da sua casa, porque sempre estava ocupada sentindo seus dedos na minha mão, ou ansiedade na minha barriga, ou qualquer lembrança próxima da alegria de reconhecer, é mais ou menos por aqui, é ali, é sim, já é ali.

 Se você me escapa do abraço, ou demora muito falando em outra garota tenho vontade de escrever meu nome nos moveis, tenho vontade de pintar uma parede inteira com sangue do meu útero. Eu quero que o desenho do meu corpo fique na sua cama, por semanas. Quero meu cheiro no lençol e travesseiro, o mês inteiro, o ano inteiro, por entre todas as luas, que são sempre a mesma lua, por entre todas as metáforas   e metonímias, todos os dias.

Quero dançar com as suas mentiras, e entender porque devo acreditar nos seus beijos e em quando você diz que gosta de mim se não posso acreditar em mais nada da sua boca. Quando eu sonho com você, você está sempre mais novo, sempre com os olhos alegres e não mente, eu sei que não. Será que meu sonho está longe demais? Estou pedindo muito? Seus lábios encontravam meu rosto, meu pescoço, meu abraço e sorriso no céu mais azul de todos, meu vestido era o figurino de um filme sobre a mulher mais feliz do mundo, passarinhos cantavam como aqueles que nos acordam a manhã... O que estão fazendo os pássarinhos dos meus sonhos na Barra Funda?

sábado, 2 de fevereiro de 2013


Quero que você me bata na outra face
Quero que você faça doer
Eu quero você em mim
Tão ruim quanto sou eu
Quanto sou eu dentro de mim

Você me dói a alma
Me dói o útero
Me dói na face,
E na outra face que lhe dou,
Depois que na primeira me bate