sábado, 24 de agosto de 2013

Rosas são vermelhas, violetas são azuis.

Estou entre os dentes do medo.

Me sinto no meio.

Nas mãos,  o seio nu,

o peito aberto.

Rosas são vermelhas e violetas são azuis.

No meu peito aberto, as suas mãos.

"não me toca"

No meu seio de graça, me amassa.


De frente para o meu corpo que não vale nada no frio da sala,

no finito da nossa casa, você me olha longe do corredor.

No meu peito pelado, de frente

atire ou beije,

ou beije depois atire,

ou atire e depois beije.

Rosas são...

Eu sai de casa para comprar  as flores do meu enterro

mas acabei comprando um patins.

escolhi um jeans azul, para um dia azul meio dia.

nem muito azul, nem cinza,

da janela branca,

das minhas horas vazias



Existe uma cor que se chama violeta...

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Eu vos declaro.


Você está com medo.

Ficou com medo quando disse que te amava em uma carta.

E quando disse pela primeira vez olhando nos seus olhos.

Ficou com medo quando te ameacei se não namorasse comigo.

E ficou com medo quando ameacei pela segunda vez ( Já que dá primeira não deu certo)

Você ficou com medo de dormir na minha casa muitos dias seguidos, e com medo de deixar algumas roupas aqui.

Ficou com medo de me apresentar pra sua mãe, e agora está com medo de novo.


Tudo indica que nós vamos nos casar. :)

Por todos eles

ao longo dos últimos 19 anos
estive tentando escrever poesias

as vezes elas que me tentam
e eu não posso, porque quero dormir,
ou mudar de assunto.

hoje é meu aniversário,
e o presente que eu ganhei
foi entender que eu não devo nunca mais
deixar um poema por escrever.

o verso que não escrevi me assombrou os dias
até eu vomitar uma briga.

hoje é meu aniversário
e eu estou aceitando um presente que já antes tinha tentado me dar:

esquecer.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Despedida xadrez


Saí de um grande amor
Com o peito ardendo
Não está mais doendo

As cicatrizes,  sob  a camisa que você mais gostava
Não dá  pra ver.
Só eu sei,

Meus amigos riem, cantam as minhas músicas,
Mas eles não sabem do meu peito,
Não sabem do desenho dos seus dedos.
No meu rosto, por alguns dias.
Ninguém te viu ir embora.
Só as ruas de perto da minha casa.

Eu saí de um grande amor
E quem me vê não imagina
O quanto sua ida
Me revira  vida

Por de traz do violão
Atrás dessa camisa,
Que você não me deixava esquecer
Que era minha camisa mais bonita,

Por baixo dessa camisa,
Meu peito não esquece que esteve apaixonado
E sempre que com ela saio
Ou que ela me vê, pendurada ou no armário
A camisa não evita
Sempre me lembra

Que você foi minha namorada mais bonita.

sábado, 3 de agosto de 2013

O quintal tem formigas.


Essa história que vou contar aconteceu comigo, mas não comigo que vocês estão vendo aqui, comigo há alguns anos atrás,  não importa exatamente quantos anos atrás, quando eu era criança suficiente pra lembrar e criança de menos pra as coisas que são de criança mas a criança não quer gostar, sabe? Eu tinha sete anos.

E em um dia dos meus sete anos minha mãe me disse que mudaríamos de casa, que não gostava mais do meu pai, que gostava de outra pessoa, e que essa pessoa gostava de fazenda, interior, matagal, fim de mundo, roça, pé na lama e tudo mais... E então todos nós agora iriamos para um qualquer  meio do mato sem cachorro, por que ainda por cima meu melhor amigo, o Bolota,  ficaria aqui em São Paulo com meu pai.

Eu gostava daqui, tinha muitos amigos, na escola e no condomínio, fazíamos as brincadeiras que toda criança gosta, corre cotia, corda, elástico, pega-pega, o mestre mandou, esconde-esconde e tinha ainda nossa brincadeira favorita, caverna em baixo da escada da minha casa... Tudo estava tudo bem, e porque agora aquela história de novo amor? De nova casa, quem seriam meus amigos? E em baixo de qual escada poderiam meus antigos amigos brincar de caverna?

Cheguei na casa nova de cara emburrada, não quis sair. Mamãe perguntou o que eu sentia, disse que era saudade, do meu pai, do bolota, e dos meus amigos, saudade de são Paulo, do movimento, dos barulhos.
Mamãe pediu para que eu ouvisse os barulhos daqui, que eu ouvisse o silêncio dentro da noite, que veria nela estrelas como nunca vi. Eu insisti que sentia saudades, ela me disse rindo “ E desde quando criança sabe o que é saudade?” Eu disse que sabia sim, e respondi “saudade é querer brincar com alguém e não poder”. Mamãe me mandou parar de pensar em besteiras, e sair pra ver o quintal, que andando por um caminho de terra encontraria um árvore que ninguém saberia dizer quantos anos ela teria.

Ela me contou que estudiosos até dos Estados Unidos já tinham vindo tentar estudar quanto tempo aquela árvore tinha, mas não conseguiram descobrir ao certo, talvez aquela arvore já tivesse visto dinossauros, ou Adão e Eva... Mas o mais legal é que ela era grande mesmo, enorme, maior do que os olhos da minha infância, maior do que o quadro que meus olhos poderiam enquadrar de muito longe, muito maior do que ela é hoje para os meus olhos ( e ainda é muito grande), maior do que um shopping, maior do que um campo de futebol, a árvore era um mundo inteiro.

Seu tronco era forte, crescia para cima, em muitos galhos, cheios de folhas, flores brancas e ninhos de pássaros. Bisbilhotei da janela, era sim muito bonita, olhei pra minha mãe, com os olhos ela disse que sim, e eu corri, atravessei a porta e corri, corri em direção a árvore, a árvore mais bonita que já tinha visto, e poderia apostar qualquer coisa, que era a  maior e mais bonita árvore do mundo.

Pensei em uma casa na árvore, pensei num balanço, ou em um cipó pra balançar, mas depois lembrei que não teria ninguém pra brincar de esconderijo, nem pra me empurrar do balanço, mamãe trabalha e acho que ela não gosta muito de brincar... Perdi a vontade de correr, e fui caminhando até a grande árvore.
Perto dela, eu mal poderia ver seu fim, era grande demais! Fiquei imaginando o infinito ali, enquanto pesquisava com os olhos entre suas folhas e galhos, esquilos, joaninhas, e flores redondinhas e bonitas.

De repente senti uma coceira no pé, que logo aumentou e começou a doer, ai, ai, ai, formigas, formigas vindas de toda parte, subindo pelas minhas pernas, eu pisei, pisei varias vezes sobre as formigas  tentei fazer com que elas parassem, mas percebi que sem querer eu tinha pisado na casinha delas, corri, subi na árvore, e subi, mais, mais e mais, subi tão alto, mas tão alto que quando parei e me lembrei de respirar, também lembrei de algo importante, mais que medo de formiga, de lobo mal, de bicho papão e de cuca, eu tenho medo de altura!

E agora? Mamãe estava longe, ia ter que espera ela sentir minha falta, para vir me procurar, não iria adiantar gritar, naquele meio de mato, fim de mundo de meu Deus, e agora? Me abracei na árvore, segurei firme e pedi pra que ela me ajudasse, quando eu senti que seus galhos se mexiam de modo que formaram uma cadeirinha bem certinha para eu sentar, do meu tamanho, e os galhos e folhas se abriram e num céu muito azul as nuvens começaram a desenhar um caminho. Parte de mim se levantou e eu segui.

Segui por aquele caminho desconhecido, e um menino estranho, com cabelos de algodão, me avisou que eu conheceria o reino das nuvens, perguntei pra ele “Eu morri? Eu cai e morri? Estou no Céu, no paraíso?” e o menino de cabelos de algodão respondeu “ Não, o paraíso é um assunto pra depois daqui, esse é só o reino das nuvens, mais um mundo imaginário, como de tantas outras historias.. Venha, vou te mostrar...”

“Sabe menina, o pessoal desse reino é muito louco! Veja o cachorro nuvem, ele fica de lugar em lugar tentando perceber se alguém o reparou ali... Ele e o coelhinho da lua são dois que eu não consigo entender... Já reparou? Que dentro da lua tem um coelho?”

Aquele menino era engraçado, cachorro na nuvem? Coelho na lua, que conversa era aquela? Ele me mostrou o lugar onde os meninos ali brincavam, de guerra de bolas de nuvem, de pula-pula, de escorregar em arco-íris, e brincamos o dia inteiro.

Quando começou a ficar escuro, os meninos foram embora, para o outro lado do mundo, onde seria ainda dia, eu quis ir, mas ouvi minha mãe me chamar. “ Filha, pelo amor de Deus, desce dai!”, eu respondi “ Não consigo mãe, tenho medo”. “ Vem filha, eu te seguro”, “Mas mãe, é muito alto!”. “ Vem minha filha, você consegue!”. Eu pulei e mamãe me segurou, voltamos pra casa, contei o que aconteceu e ela não acreditou, mas pelo menos ficou feliz que eu gostei da casa nova. Ainda sentia saudades, do meu pai que só vem as vezes, do Bolota e dos outros amigos. De vez em quando me lembrava deles, queria que eles também conhecessem o reino das nuvens.

Hoje, como minha mãe, não acredito mais que exista um reino das nuvens, talvez eu tenha imaginado todas aquelas tardes, mas isso não quer dizer que não fiz amigos, eu tinha feito fiz uma nova e grande melhor amiga: a árvore, maior e mais bonita do mundo, e eu nem preciso ver as outras pra dizer!