terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

mundo cruel, ó


As vezes dá uma vontade de ter TV, mas tem tanta coisa antes pra comprar e em casa não tem espaço... Chegar em casa e ligar o computador é uma merda, sempre chato...  Ainda bem que eu ganho vale alimentação, eu chego em casa e sempre tem uma coisinha gostosa.

Eu subi as escadas, abri a porta, encostei, sempre tem as coisas que eu gosto na geladeira, é  a minha geladeira, todos os dias eu agradeço a mim mesma por ter meu espaço, vê? As coisas melhoram pra gente, nem sempre foi assim...

A vista do apartamento não foi critério quando escolhi, só pensei nisso depois de visitar um amigo que morava no alto, São Paulo é uma merda, mas do alto - naquele dia - ficou legal...

Um dia, tinha um homem de outro primeiro andar do outro lado da rua, e ele me observava sem camisa, eu tive medo, mas nunca mais o vi.

A minha janela fica sempre aberta, pra ninguém saber quando estou, quando saio ou quando chego, na dúvida sempre estou - esperando - com uma faca - já cravada no peito. Oi?

Só tem uma janela, vê? As coisas poderiam estar melhores, mas é assim que elas são, só tem uma janela mas quando chove não tem nada que molhe na frente dela e o piso é frio, aqui é calor e logo seca. Eu nunca fecho a janela.

Essa noite eu sonhei que matava um homem, eu sonhei que com uma frigideira eu acertava a cabeça dele, mas antes disso dizia pra Deus ou para ninguém: eu vou matar esse homem, eu vou matar esse homem, eu vou matar esse homem”.

Não era um estuprador, não parecia ser, mas era muito maior que eu, e mentia, era dissimulado, eu sabia, estava nos lugares antes que eu, eu o via em uma piscina vazia num céu roxo.

Eu ouvi um estalo, tem um passarinho amarelo e gordo na minha janela, só a barriga é amarela.

Eu odeio humoristas, tem leite derramado no fogão, eu que cuido dele,  limpo de vez em quando, mas quando limpo fica com aspecto bastante novo, ainda está bem novo.

Eu queria ser completamente invisível, porque ser um pouco invisível é frustrante. Se eu tivesse uma televisão... Eu não acredito em nada, não sei o que aconteceu comigo, antes eu conseguia assistir, eu queria mais do que ter uma televisão conseguir assistir. Na minha cabeça as histórias ainda se misturam um pouco, mas lembro de muita coisa do que vi na TV em restaurante e padaria, parece que ela me sequestra e me fere o cérebro, eu não desligo, está sempre errado, é sempre muito ruim, é um lixo.

Pensei que estava completando a primeira página, mas era a segunda. Esse ano eu faço vinte anos, é menos do que a maioria das pessoas que convivem comigo, o que me faz pensar que as coisas poderiam estar piores.

Quando eu tinha 14 anos eu  me observei bem na beira do lago da casa de férias do meu pai, ficava revezando entre meu reflexo na água, meus braços e pernas em roupas coloridas e as páginas, eu estava lendo Lolita e em cada linha pensava que estava passando muito rápido, li o livro naquela semana, em 5 dias, e o tempo nunca mais passou do mesmo jeito. “Isso é livro pra gente da sua idade?”... Não, não era, mas falar não adianta, deveria ter tomado o livro... Depois disso fazer aniversário foi sempre uma experiência de medo, com os anos, nada se realizou, os desejos quase os mesmos, cantar sempre entre eles, nada mudou, eu continuo meio muda e meio invisível, as vezes as pessoas me dão 15 anos ainda, verdade, o segredo é não beber, não fumar e estar cada vez mais magra.
                    
Faz tempo, achei que estaria completando a terceira página, mas era só a segunda,  e nada de café para mim, não me faz bem, vê que puta que o pariu? Também tenho alergia à gatinhos, livros antigos e não ficaria bem de cabelo curto. Oh mundo cruel.