sábado, 10 de dezembro de 2016

minha avó jogou a boneca no lixo.

Em decorrência da repetitividade com que esse tema me ocorre, vou partir do pressuposto de que não preciso mais apresentar minha avó.

Foi perto do último natal, eu queria liquidar toda minha ausência presenteando minha avó com uma boneca. A boneca era verdadeiramente bonita, mas não sei porque eu na minha inocência pensei que minha avó adoraria o presente e se alegraria ao olhar para boneca todos os dias. Todos os dias em que eu não estou.

Um pouco depois de comprar a boneca, eu voltei para uma visita e a boneca não estava mais lá. Perguntei por ela. Minha avó disse que a empregada quebrou. Falei com a minha mãe. Depois de uma breve investigaçao, ela disse que o porteiro viu pelas câmeras do condomínio que minha avó colocou a boneca no lixo.

Eu sei que o coracão da minha avó doeu.

Vai fazer um ano que tudo isso aconteceu e eu não fiz mais nada.

Eu não quero pensar na minha avó, na dificuldade dos seus 93, descendo oito andares para jogar a boneca que eu dei no lixo.

Eu sei que eu estou errada e ela está muito lúcida. Talvez não sejamos muito boas em resolver nossos problemas conversando... Já na arte de machucar uma a outra, parece que há um dom na família.

Saudades de dar carinho na minha avó, mas as pequenas mágoas enrigeceram tudo, e a gente se permitiu ficar longe sem nada dizer.

E como ao redor de toda pessoa velha, paira sobre nós todas da nossa família, a sensação de que logo ela vai morrer.

Criamos mecanismos de autodefesa, e o sol nasce e se poem todos os dias.

Mais uma vez presente não é presença.

Saudades de receber carinho da minha avó.

De todas as pequenas coisas que ela tinha e que eu quando criança achava muito bonitas.

Dos antigos livros de receita , toalhas bordadas, das revistas....

Tudo ficou velho

E quando eu paro para pensar, vejo

que todos os dias eu vou deixando meu coração virar pedra




Nenhum comentário: