terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Nachrichte für Sie


Berlin, 22 janeiro 2013


Paulo


Escrevo- te em um dia que, apesar de parecer-se apenas com um dia, é uma data especial: Te faço participar das minhas últimas horas na Europa.Por isso que durante hoje me acompanha um sentimento ansioso em qualquer lugar por onde passam meus pés (congelados)

Hoje fui à um campo de concentração, e aprendi que isso é diferente de um campo de extermínio ( ouve-se um coro de lamentos sedentos pro extra-violência).

Paulinho, a Europa é uma experiência sofrida para estrangeiros, um continente doente, traumatizado, racista e cruel.Não vejo a hora de voltar, de andar com menos roupas,  de poder me mover mais, de ter ânimo para fazer exercícios e de não passar os dias todos pensando em comer queijo.

Agora estou em uma cantina italiana, bem botequenta, tomando uma garrafa de vinho, que tem me acompanhado desde o almoço (com bastante queijo).Essa garrafa nunca acaba! Sim, isso quer dizer que te escrevo palavras bêbadas, moribundas e mal escolhidas!

Sinto  falta de você e de todos os meus! O que você tem feito por ai? Sempre à escrever, imagino.. Ô Paulinho, eu vou voltar ( sei que ainda vou voltar) com muito trabalho acumulado. Estou com imensos sentimentos preguiçosos sobre ensaios e sobre a faculdade. Eu preciso ser uma aluna melhor e também preciso estudar idiomas, porque ein bissen deutsch não tira o pai da forca! Rs

Amigo, padeço de crises estúpidas, você sabe, já lhe adianto desculpas, pelas mazelas que vou lhe escrever! Obrigada pelo tempo e pela paciência, comigo e com minha caligrafia bêbada.

Sabe o que aconteceu com meu rosto nessa viagem? Estou mais velha. As vezes, no espelho, nem me reconheço. Mas não padeço de certezas. A idéia de ter que argumentar sobre algo me deprime, odeio ter eu assumir posições, estou ficando velha, dou um boi para não discutir nada!

Quero para sempre bambear em cima de um muro. Falar em muro, o muro aqui, é um mundo todo ( em cima do muro um grande amor perdi)

Ah! Amigo, um sentimento apaixonado me toma a cabeça mais do que eu tomo esse vinho! Que coração pode sobreviver a isso? A paixão devagarzinho mata a gente, ela é paranoica, patológica, patogênica, patagônica, paraplérgica, paleolítica, paraolímpica, recalcitrante, tratante, enfim, uma maligna, monstrenga!
Paixão é só sede!

Sede de beber todo um corpo, realizar uma paixão é mais que possuir nas mãos na boceta e nos lábios, é aquecer o frio mais urgente, abraçando o calor, deixando-se tomar, deixando-se servir. É mais que a mão na mão, que a cabeça no peito. É todo desespero.

Paixão é estar junto pensando “ eu quero gozar com você porque você me faz sofrer”. Porque o desejo pulsa, arde, é urgente. Amigo, meu coração está apaixonado.E amanha, amanhã, tão bonito o amanhã, estarei de volta ao Brasil. De novo a paixão, de novo os meus, São Paulo city, e você.

Em breve te vejo,
Um beijo.

Obrigada por ser grande!


Luciana Maria Tico-tico.