terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Correspondência


Heidelberg,  08 de Janeiro de 2013

Zé,

Os planos de escrever as cartas não se realizarão senão no plano das idéias... Mas alguma coisa está acontecendo...


Reclamo em pensamento os entre zero e menos cinco graus enquanto desvisto as luvas para procurar algo na carteira.

Aqui são tantos músicos pela  rua que chego todos os dias em casa sem moedas. A vida por cá tem trilha sonora, não, a vida aqui tem algo mais profundo, uma atmosfera ( romântica com certeza). Algo Belle Epoque canções dos anos 20 entre as lojas de todas as marcas do Breakfast at Tiffany.

Na rua principal (Haupstrasse)  hesito tirar as luvas para encontrar uma caneta, mas esqueço do frio enquanto fito os dedos que correm entre cordas e instrumentos de metal.

Eu estou em um livro, não é possível! Ou em um filme,( romântico com certeza...) mas sinto frio e alguma tristeza.

As bicicletas, igrejas, prédios antigos e bondinhos, por todo lado, gritam com as portas e pias automáticas.
Trilhas, Trilhos e romance me encontram a cada quarteirão. Do meu quarto escuto sinos (automaticamente a cada seis horas)  e escovas de dente elétricas. ( O Rube ia pirar aqui!)

Todo mundo anda encolhido dentro das roupas de inverno, e eu também... Só não consigo encolher um sorriso, aqui é triste, é frio, é desumanamente  automático, mas  a  música é tão linda! Chego todos os dias em casa tendo deixado lagrimas congeladas pelos ladrilhos da avenida principal, chego todos os dias em casa sem moedas na carteira.

Abç,

LM Cavichioli

P.S.:
Sinto muito que você tenha perdido seus escritos da última viagem, é um remédio incrível pra solidão.


P.S.II:
Outras letras que me fazem cia são um livro que você me sugeriu.