segunda-feira, 16 de junho de 2014

Menina,



as coisas que eu queria dizer e não disse,
estão na minha cabeça dançando ao som do meu relógio analógico.
no silêncio mais vazio possível entre um e outro tic tac.

te olhar de longe na calçada, assim de noite
faz a vida parecer um filme

são tantas luzes, e tantas desideias
em casa eu contínuo pensando e desistindo muito.

eu moro em um primeiro andar,
e tem um poste na minha janela.

aqui sempre fica tudo muito claro.

eu escudo perfeitamente cada palavra das mulheres e das crianças que passam na rua, entre seus caminhos de volta, o silêncio, meus pensamentos e o relógio

envolta nessa névoa branca, pura, sólida e refinada sob cada um dos postes da rua tem pequenas casas e construções sobrevivendo num grande centro.

existe no mundo um poeta que diz que não se deve escrever poemas para sua cidade, que se deve deixa-la em paz.

mas ela acorda de noite, nos últimos dias principalmente, tão alva e tão quente, que me obriga a olhar, e então já está tudo perdido.

porque é uma sensação tão avassaladora ver da janela milhares de janelas, acesas, apagadas, metálicas, reluzentes, ver pequenas estrelas na noite tão clara, e tantas outras pessoas na janela, e fora dela, fumando cigarros, esperando.

As businas e as rodas dos carros, de longe passando na avenida, as palavras censuradas, e o meu relógio metronomeando minha existência solitária estão cantando, dançando, um filme que por fim decido chamar de me-nina.

e todas as coisas que não disse vão dormir comigo
e muitas outras casas dormem, 
outras acordam,
outras dizem, 
outras não dizem, 
as mesmas coisas e coisas diferentes.

e por mais que isso possa deixar Carlos Drummond um pouco frustrado: A menina nunca descansa.



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