sexta-feira, 19 de abril de 2013

A mais tola carta de amor, ou a mais tola carta de desamor.



São Paulo, 19/04 outro quase inverno.

Rasguei em pedaços tudo que queria dizer, já comecei e recomecei essa carta algumas vezes. Porque eu sei que de noite você vai me ligar, sei que logo vamos nos falar, estou ansiosa, mas tenho certeza que você  não dorme sem falar comigo, e não sei se por essa, ou por outra razão parecida, meus pensamentos se recusam a descansar. Poderia fechar os olhos, imaginar o que vou dizer, mas não dormir, o medo não dorme, eu também não durmo sem falar com você.

Não preciso escrever essa carta porque vamos conversar tudo isso, você vai voltar, sei que ainda vai voltar, por todos os nossos planos, pelos enganos... Você não me deixaria, pelo nosso tempo, por causa dos afetos, e do gosto por desafetos. Eu sei que o telefone vai tocar, você sabe que eu não estou dormindo, eu não estou dormindo, eu estou chorando escondida em baixo da cama, e as pessoas em casa não entendem nada, elas também estão assustadas, mas  fingindo não me ver, uma questão de elegância.

Estou um pouco cansada de não querer voltar pra casa porque estou com a cara inchada, estive chorando em lugares públicos, não tive força para me segurar no ônibus, uma freada entregou minha cara ao chão, a face direita, me deixei contra o fim, esperei o limite. Estava ali. “Machucou?”, “Você está bem?”. Estou machucada sim, é, está doendo, mas faz tempo, está doendo, mas é por dentro...

Eu estou decidia que não gosto mais de insuficiência como patamar, e que estou com muita vontade de me jogar da escada, antes de chegar no alto, faltou pouco, eu sei, mas não cheguei a tempo para minha vez, não sou eu o que você quer. E digo ‘o que’ com muita clareza, e não ‘quem’, por razões que se pode entender, certo?

Eu te amo, te amo muito, pensar em como nossos filhos cantariam bem me faz soluçar de chorar, mas meu rosto não pode ultrapassar o chão. É impossível para mim , sou eu ou isso, é o que se pensa quando tem que levantar do chão do ônibus, e eu tive que levantar.  Estava inerte mas não tanto a ponto de perder o ponto e ir parar no terminal Teotônio Vilela, é melhor saber da sua hora.

Suas palavras foram claras, ‘há um ano você só está fazendo merda’,’ você não mudou, as pessoas não mudam’. Chega então de sofrer, você não sabe perdoar, e amar, não era nunca precisar pedir desculpas? Eu estou cansada de tentar te convencer, eu já expliquei, desenhei, rimei, tirei a roupa e virei o cu para você me enfiar. Não, jamais será o bastante.

Te desejo, te amo, te adoro, e tudo isso se confunde, é as vezes quando te encontro os olhos, ou quando te sinto me beijar, quando segura minhas coxas e me faz gozar, quando te vejo, sincero, quando me abraça e dormimos num calor insuportável e acordo misturada na sua carne, encontrando meu corpo no meio do seu, a luz da janela para o quarto, os passarinhos do meu sonho de felicidade. Meu sonho é que pudéssemos superar tudo que machuca, está tão pra dentro da gente.

Quero amputar a dor do meu coração, tem como ficar só com a paixão? Só com a lembrança daquele beijo que me deu no seio? De lado, um dia que eu usava calcinha azul... Eu te amo, eu amo a gente junto, o seu jeito de fazer carinho me esfregando os calos, quando quer estar comigo de verdade, te amo, amo  te ouvir me tocar, sua música, seu coração... Porque tem sempre um pensamento ruim para assombrar nossa felicidade? Porque  não perde uma oportunidade de me machucar? Eu me arrependo de coisas que sei que não fiz por mal, que sei que não são erradas.. eu acho que não sei amar....

Eu queria dizer nessa carta que não quero mais, mas sei que você não vai deixar ficar por isso, sei que nunca me deixa terminar com você, e ainda sim n diz que me aceita, só me sustenta por um pouco mais tempo de pé, pra me bater mais, para brigar mais. Vamos brigar mais um pouco, você vai telefonar e eu vou chorar, eu vou soluçar, vou pensar em momentos felizes e vou desabar, vou te implorar pra esquecer meu passado e prometer que esqueço o teu, vou te implorar, vou te implorar para não brigar mais comigo...

Só estamos brigando outra vez... É só amor e desamor...