sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Essa canção é sobre um rato que fez um trato com um gato.

Mas acabou rompendo o combinado
e na triste pia de uma cozinha, morto
foi encontrado.

O gato e o rato eram amigos há muitos anos
estudaram ambos no Salesiano

Gostavam de juntos tocar piano
e se divertiam vendo tom e jerry

Mas junto com a formatura
veio aquela ideia de que vida continua

cada um seguiu um caminho
mas o destino não os tratou com o mesmo carinho

o gato arranjou uma família de humanos
e pobre rato arranjou só armadilha

Não era um hamster caucasiano
acabou entrando pelo cano

os pelos ficavam cada vez mais rasos
cada dia, dia pós dia o rato ficava mais magro

a noite fria, também da medo
pra quem nela leva vida

nos becos úmidos e escuros
tudo pode dar errado.

a comida estragada
não faz bem para barriga

e quando a esmola é boa
o ratinho desconfia

o rato era atleta desde o colegial
pensou no alpinismo social

para melhorar suas condições.
mandou um e-mail contando suas aflições

para o amigo gato, que ficou sensibilizado,
e verdadeiramente emocionado

e chamou o rato pra viver na casa da sua família de humanos,
desde que o rato não incomodasse o cotidiano

Só que a convivência foi dissolvendo com comodidade
o respeito e a gratidão de uma grande amizade,

O rato estava gordo como uma capivara
e o gato levando bronca por conta da comida cara

O queijo francês sobre a prataria
tinha mais buracos do que deveria.

entre os buraquinhos o gato reconheceu
a marca dos dentinhos de um amigo seu.

ficou indignado com tanta falsidade.

possuído por muita raiva, não avisou o rato sobre uma armadilha
no bolo de milho em cima da pia.

O rato com veneno na barriga se contorcia
como se conhecesse o amor.

Ele sofreu, jurou, pediu perdão e sentiu dor
como se conhecesse o amor.

O rato se dissolveu em lágrimas
delirou e filosofou, fez uma teoria sobre a cor do que sentia
como se conhecesse o amor.

O rato mordeu as unhas dos pés, desejou abrir-se e lavar as tripas
como se conhecesse o amor.

O rato rangeu os dentes, segurou a cabeça e sentiu pulsar as têmporas
como se conhecesse o amor.

O rato viu um feixe de luz, um clarão em sua direção.

Sentiu-se queimar por dentro, e viu o mundo girar de dentro de si.
foi ele que parou.

Como quem conhece a morte.

Foi feita uma nota, uma breve homenagem no jornal do Salesiano,

No caixão o ratinho espremido mostrava alguns pelos da barriga entre os botões da camisa.

Os presentes no funeral temiam uma explosão, seguida pelo voo de um botão

Como seria possível? Tão jovem e cheio de saúde e energia!

O gato foi ao velório, mas olhando de canto sorria.