e na triste pia de uma cozinha, morto
foi encontrado.
O gato e o rato eram amigos há muitos anos
estudaram ambos no Salesiano
Gostavam de juntos tocar piano
e se divertiam vendo tom e jerry
Mas junto com a formatura
veio aquela ideia de que vida continua
cada um seguiu um caminho
mas o destino não os tratou com o mesmo carinho
o gato arranjou uma família de humanos
e pobre rato arranjou só armadilha
Não era um hamster caucasiano
acabou entrando pelo cano
os pelos ficavam cada vez mais rasos
cada dia, dia pós dia o rato ficava mais magro
a noite fria, também da medo
pra quem nela leva vida
nos becos úmidos e escuros
tudo pode dar errado.
a comida estragada
não faz bem para barriga
e quando a esmola é boa
o ratinho desconfia
o rato era atleta desde o colegial
pensou no alpinismo social
para melhorar suas condições.
mandou um e-mail contando suas aflições
para o amigo gato, que ficou sensibilizado,
e verdadeiramente emocionado
e chamou o rato pra viver na casa da sua família de humanos,
desde que o rato não incomodasse o cotidiano
Só que a convivência foi dissolvendo com comodidade
o respeito e a gratidão de uma grande amizade,
O rato estava gordo como uma capivara
e o gato levando bronca por conta da comida cara
O queijo francês sobre a prataria
tinha mais buracos do que deveria.
entre os buraquinhos o gato reconheceu
a marca dos dentinhos de um amigo seu.
ficou indignado com tanta falsidade.
possuído por muita raiva, não avisou o rato sobre uma armadilha
no bolo de milho em cima da pia.
O rato com veneno na barriga se contorcia
como se conhecesse o amor.
Ele sofreu, jurou, pediu perdão e sentiu dor
como se conhecesse o amor.
O rato se dissolveu em lágrimas
delirou e filosofou, fez uma teoria sobre a cor do que sentia
como se conhecesse o amor.
O rato mordeu as unhas dos pés, desejou abrir-se e lavar as tripas
como se conhecesse o amor.
O rato rangeu os dentes, segurou a cabeça e sentiu pulsar as têmporas
como se conhecesse o amor.
O rato viu um feixe de luz, um clarão em sua direção.
Sentiu-se queimar por dentro, e viu o mundo girar de dentro de si.
foi ele que parou.
Como quem conhece a morte.
Foi feita uma nota, uma breve homenagem no jornal do Salesiano,
No caixão o ratinho espremido mostrava alguns pelos da barriga entre os botões da camisa.
Os presentes no funeral temiam uma explosão, seguida pelo voo de um botão
Como seria possível? Tão jovem e cheio de saúde e energia!
O gato foi ao velório, mas olhando de canto sorria.