Mamãe lhe amassou o rosto, ele
gostava disso, desse carinho exagerado, de sentir as bochechas quentes da mãe
na sua... Mas naquele dia ela estava nervosa, Luiz sentia o coração dela bater
forte durante o abraço, o pai também o abraçou. Já perto da porta o pai deixou uma lágrima chorar
dos olhos. Ninguém conseguiu dizer nada. Tudo tão rápido como algo que não pode
estar certo. O avô o tomou pela mão, mas sem nenhuma ansiedade.
A mãe havia colocado em duas
mochilas, roupas, brinquedos, objetos de higiene e materiais escolares, com as
mãos tremendo de amor e medo. Luiz observava as mochilas no canto do sofá
florido de rosas e margaridas, as malas lhe preocupavam o peito, sentiu o
coração querer parar, tontura, enjoo, mas não se moveu, sentiu como se alguém
lhe friccionasse a garganta, tentou falar e não conseguiu. Ressentimento. Olhos
vazios. Desfocou as mochilas, mas seu avô percebeu a partir da direção de sua
cabeça que estavam subindo sem levar as coisas, mandou Luiz pegar as malas, mas ele não ouviu. Tempo. O avô engoliu seco,
e disse de novo:
-Luiz, pega suas coisas pra a
gente subir e dormir – E desta vez completou com as palavras mágicas - vai dar boa noite para sua avó.
O tempo rasgava o avô por dentro,
o micro tempo entre suas próprias palavras, entre elas e o Luiz, entre tudo que
as palavras não poderiam explicar, e tudo que Luiz sentia sem poder entender
consumiam o velho, fazendo seu sangue ferver. Tudo muito triste, a avó era sempre
uma estratégia de convencimento, mas pela primeira vez Luiz entendeu seu avô,
entendeu como a saudade maltrata o coração. Sem soltar as mãos, pegou
uma das mochilas, vô Bernardo a outra e subiram para dar boa noite à vovó.